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Capítulo 1

                    gime militar, em 1964, através do golpe deflagrado contra o governo do
                    presidente João Goulart. Essa intervenção militar também deixou suas
                    marcas na política pesqueira e na vida dos pescadores artesanais. O Poder
                    Executivo passa a ter maior controle sobre a categoria através das colô-
                    nias de pescadores. A política de fortes incentivos à industrialização per-
                    manece aliada, agora, ao “[...] fortalecimento de políticas autoritárias re-
                    lacionadas à organização política da categoria” (RAMALHO, 2014, p. 47).
                    O PNDP foi publicado no período da ditadura militar, sob o comando do
                    presidente Ernesto Geisel. É possível perceber no registro a valorização
                    do trabalho desenvolvido pela instituição militar naval e, em especial, da
                    Missão do Cruzador José Bonifácio.

                    O entendimento da SUDEPE sobre o desenvolvimento da pesca nos for-
                    necerá importantes indicativos de como a instituição conduziu a ativida-
                    de nesse período e direcionou a sua política. Para a Superintendência do
                    Departamento de Pesca (1980), a evolução da política pesqueira está orga-
                    nizada em duas grandes fases: pré-industrial ou artesanal e industrial. A
                    primeira fase remonta a três subdivisões, que vão desde os primeiros atos
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                    legais da pesca  — a exemplo da criação da Capitânia dos Portos pela Ma-
                    rinha do Brasil em 1846 —, passando pela fase de institucionalização da
                    pesca — através do projeto de nacionalização — e, por fim, o período de
                    tecnificação, com a Divisão de Caça e Pesca do Ministério da Agricultura.
                    O período que ora analisamos está incluído na segunda fase, “industrial”,
                    subdivida em dois períodos: a consolidação da industrialização e a am-
                    pliação dos incentivos fiscais para o fomento da pesca industrial, confor-
                    me ilustra o esquema a seguir:


                    do por profundas transformações/revoluções políticas, tecnológicas, econômicas, sociais e
                    culturais. Essa fase também é conhecida como ‘os trinta gloriosos’ (1950-1980). Do ponto
                    de vista econômico no contexto histórico brasileiro, destaca-se o período de intenso cresci-
                    mento durante os famosos ‘50 anos em 5’ do governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961),
                    seguido de um período de ‘estagnação’ da economia (1963-1964) e a posterior retomada no
                    ‘milagre brasileiro’ (1968-1973) (PLEINN & FILIPPI, 2012, p. 14).
                    6   Esse período, embora não tratado nesse artigo, também é de responsabilidade da Marinha
                    do Brasil. Em 1846, a instituição naval militar criou a Capitânia dos Portos já com o intuito
                    de promover o controle da pesca, embora a regulação da atividade só viesse a se efetivar a
                    partir da Missão, com a criação das colônias de pescadores. Nesse período, a Marinha bra-
                    sileira também investiu na pesquisa sobre as formas de modernização e industrialização da
                    pesca a partir de expedições realizadas nos continentes norte-americano, europeu e asiático,
                    conforme registrado em Villar (1911).




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