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Capítulo 1
mais o controle e a adequação dos grupos sociais considerados à margem
desse processo — no caso, os pescadores — do que o reconhecimento de
suas histórias, suas identidades, seus modos de vida como originais e va-
lorizados. O que sustentava ideologicamente esse processo em curso era
a perspectiva de que o caminho a ser trilhado — de forma tutelada pelo
Estado, via intervenção naval — em direção ao desenvolvimento era não
apenas o melhor, mas o único capaz de trazer os pescadores à civilidade.
De acordo com o comandante Villar, em cada localidade que a Missão
atracava, os militares repetiam aos pescadores o Código de Honra do pes-
cador brasileiro. A oração é preenchida de termos patriotas, de defesa
nacional e reverência à força militar naval. Seus versos ensinam, ainda,
a importância da mudança do modo de vida primitivo para a adoção dos
benefícios que a modernização e a instrução técnica oceanográfica pode-
riam proporcionar-lhes e ao progresso de toda nação.
Figura 1: Palavras de ordem.
Registro de imagem: CYRINO (2016). Fotografia de trecho do Código de Honra do Pescador
Brasileiro (VILLAR, 1945, p.157). Acervo pessoal.
Percebemos nesses imperiosos versos como os costumes tradicionais dos
pescadores são suprimidos e colocados como não adaptáveis ao novo mo-
delo que ora lhes era apresentado. Villar (1945) deixa evidente o direciona-
mento que era dado aos pescadores para adotarem as técnicas mais mo-
dernas de pesca que pudessem atender ao ideal de expansão da indústria
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