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Vidas de Rio e de Mar: Pesca, Desenvolvimentismo e Ambientalização

               unidade política do país e para a defesa nacional” (VILLAR, 1945, p. 23).

               Cabe reforçar que a obra que narra a Missão só foi publicada 22 anos após
               a sua realização, já no ano de 1945, período do primeiro governo de Getú-
               lio Vargas. Ao analisarmos esse contexto, são esclarecidas as várias exalta-
               ções ao presidente Getúlio e a sua política de governo, expressas no livro
               que foi escrito por Villar (1945). Na avaliação do comandante militar, Var-
               gas é louvado como um grande líder que conduz a nação ao progresso. Tal
               importância ainda é expressa no prefácio da obra, que contém as palavras
               do próprio presidente da República respaldando a importância da Missão.

               Sem dúvida, o primeiro e o mais longo governo de Getúlio Vargas (ini-
               ciado em 1930 e finalizado em 1945) tem como grande destaque o projeto
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               desenvolvimentista. Vários estudos  sobre o desenvolvimentismo no Bra-
               sil apontam que esse processo emergiu no contexto da crise de 1930 e da
               Segunda Grande Guerra Mundial, propulsionando a legitimação da in-
               tervenção do Estado na condução do processo de industrialização.
               No governo Vargas, esses dois caminhos, a intervenção estatal e a indus-
               trialização, encontram-se, portanto, integrados. A narrativa do livro Mis-
               são reproduz esses interesses estatais direcionados para a área da pesca,
               com a institucionalização da atividade através da sua regulação e controle
               e com a instrução de ações que se voltassem à expansão industrial e uti-
               lização da mão de obra dos pescadores, assim como à intervenção nos
               modos de vida das comunidades pesqueiras, conforme será possível iden-
               tificar no decorrer desta análise.
               No documento militar ora analisado, Villar (1945) destaca a declaração
               do então ministro da Marinha, Almirante Gomes Pereira, a qual revela o
               interesse do Estado em reconhecer nos pescadores uma força naval que
               estaria alinhada à expansão industrial da pesca no país:
                       O pescador é um valioso instrumento para a defesa nacional: de-
                       senvolvendo as indústrias da pesca, criaremos entre nós esse mate-
                       rial precioso, que nada nos custará na paz e nos será de grande utilidade
                       em caso de guerra. São reservas de homens e barcos que se articu-

               4   Podemos encontrar essa indicação nos trabalhos de Silva (2004); Cepêda (2012);
               Draibe (1985); Furtado (1983), entre outros.





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