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Capítulo 1

                    foi realizada no período de 1919 a 1923 com o objetivo de regularizar e na-
                    cionalizar a pesca no país. A obra de 235 páginas foi publicada em 1945
                    pela Biblioteca Militar, narrada por seu próprio comandante, o capitão de
                    Mar e Guerra Frederico Villar, membro do Instituto de Geografia e Histó-
                    ria Militar do Brasil, do Instituto Oceanográfico Brasileiro e do Instituto
                    Técnico Naval.

                    Conforme o registro feito da trajetória da política pesqueira — encon-
                    trado no documento do Plano Nacional de Desenvolvimento da Pesca
                    (SUDEPE, 1980), o qual será analisado na próxima seção —, durante es-
                    ses quatro anos (1919 a 1923), os militares percorreram o litoral brasileiro
                    cadastrando mais de 100.000 pescadores e organizando-os em colônias
                    cooperativas com espaços para serviços de ensino e saúde, dos quais re-
                    sultaram o “Serviço de Pesca e Saneamento do Litoral”, em 1923. No docu-
                    mento, o trabalho militar realizado é enaltecido, ao afirmar que: “É nesse
                    trabalho pioneiro, de Frederico Villar, que são estabelecidas as bases de-
                    finitivas para o desenvolvimento da pesca do Brasil, e de uma orientação
                    para uma futura ação do governo” (SUDEPE, 1980, p. 11).
                    Seguindo na análise da obra Missão do Cruzador José Bonifácio, já nas pri-
                    meiras páginas do registro, podemos identificar os ideais nacionalistas
                    que sustentam os objetivos da cruzada. Os subtítulos do documento “Os
                    pescadores na Defesa Nacional”, A nacionalização da pesca e a Organiza-
                    ção dos seus Serviços”, “Subsídios para a história militar no Brasil” anun-
                    ciam as intenções da instituição militar naquele momento, quais sejam:
                    definir um papel social para os pescadores da costa do país e, com isso,
                    transformá-los em braço da Marinha, ou seja, um reforço para a seguran-
                    ça naval.

                    É válido destacar que, no período da Missão, a Primeira Guerra Mundial
                    (1914–1918) acabara de findar, e o mundo vivenciava as tensões pós-guerra.
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                    A Marinha brasileira se preocupava com a presença de estrangeiros  na
                    costa brasileira e com o controle dos pesqueiros, o que representava, para
                    a instituição naval, os “[...] graves perigos que isso determinaria para a


                    3   Segundo  Villar  (1942, p.25), a  Missão foi  resultado  do que  apregoava  a
                    Convenção de Haia de 1882, a partir da qual “[...] a pesca é um direito exclusivo
                    dos  filhos  do  país,  porque  o  pescador  é  detentor  de  segredos  que  interessam  à
                    defesa nacional”.




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