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Vidas de Rio e de Mar: Pesca, Desenvolvimentismo e Ambientalização

               dernização da sua atividade. Essa condução, iniciada de forma tutelar e
               disciplinadora pela instituição naval, acionou um discurso que marcava
               a urgência da modernização não apenas da atividade da pesca, mas do
               modo de vida dos pescadores.
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               Diante desse fato, o presente artigo  está divido em duas seções. A primei-
               ra analisa a edição original da obra Missão Cruzador José Bonifácio, de au-
               toria do capitão de Mar e Guerra da Marinha brasileira, Frederico Villar,
               publicada em 1945 pela Biblioteca Militar. E a segunda traz considerações
               sobre o Plano Nacional do Desenvolvimento da Pesca 1975–1979, publicado
               pela extinta Superintendência de Desenvolvimento da Pesca – SUDEPE.
               A consulta e análise dessas fontes nos permitem entender os meandros
               desse processo histórico de formação da política pesqueira e o quanto
               ele foi — e ainda continua sendo — muito mais pautado na exclusão do
               pescador e de suas práticas que na sua valorização, de fato.


               A CONDUçãO DISCIPLINADORA MILITAR COMO ESTRATÉGIA
               DO PROJETO NACIONAL-DESENVOLVIMENTISTA

                  Não se trata de um dado amplamente divulgado, mas os estudos mos-
               tram que a trajetória da regulação da pesca em território nacional foi
               marcada pela forte atuação da Marinha do Brasil. De acordo com Silva
               (2015), já a partir de 1912 o país vivenciava a expectativa do progresso de-
               senvolvimentista e, nesse cenário, a pesca chamou atenção das elites eco-
               nômicas, que apostaram na modernização do setor através da sua indus-
               trialização. Já nessa época, as ações promovidas pela instituição militar
               estavam alinhadas a essa perspectiva e visavam ao controle e à expansão
               da atividade pesqueira.

               Essas motivações direcionaram a Marinha a percorrer toda a costa do
               país com o projeto de “instruir” os pescadores e “sanear” suas formas de
               vida. Esse fato nos leva à investigação e ao encontro da obra Missão do
               Cruzador José Bonifácio, na qual descobrimos descritas as impressões da
               Marinha sobre o pescador, constituindo-se como um tipo de marco ins-
               pirador e base para os vários atos regulatórios que a sucederam. A Missão

               2   Este trabalho apresenta resultados e desdobramentos da dissertação de Carolina
               Cyrino, orientada pela Prof.ª Dr.ª Aline Trigueiro, no Programa de Pós-Graduação
               em Ciências Sociais da Universidade Federal do Espírito Santo




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