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Patrimonium - 29
Geologia de Peniche - ”Cabo Carvoeiro”
Desde sempre que Peniche (concelho e arredores) atraí a comunidade científica, desde
estudantes a cientistas, dada a variedade e qualidade de pontos de interesse, sendo estes alvo de
diversos casos de estudo e trabalhos científicos.
Em termos de estratigrafia, Peniche possui a série mais contínua e a mais completa do
Jurássico Inferior (176 a 200 Milhões de anos) em Portugal.
A série litológica é composta por calcários, calcários dolomíticos e bioclásticos na base,
seguidos por uma sucessão de calcários gresosos e oolíticos. Uma vez que estas camadas estão
bastante diferenciadas e visíveis, levaram à definição de Peniche como localidade-tipo de
algumas formações, nomeadamente: as Formações de Vale das Fontes, de Lemede e do Cabo
Carvoeiro, sendo inclusive o registo margo-calcário da Formação de Vale das Fontes em Peniche
um marco decisivo na investigação petrolífera em Portugal.
Constitui uma paisagem cársica de grande singularidade, caracterizada por um conjunto de
formas típicas de relevo, designadamente galerias, grutas, algares, pias, entre outras. Estas
tipologias cársicas são controladas pela disposição dos estratos, bem como pelo seu conteúdo em
carbonato de cálcio, e pelas estruturas tectónicas frágeis existentes. A plataforma de abrasão
marinha, onde se desenvolve esta paisagem cársica, resultou da subida do nível do mar, durante
os tempos plistocénicos (2,6 Milhões de anos).
(foto Paisagem cársica (Cabo Carvoeiro) (fotogra a - Daniela Andrade, 2015)
Do ponto de vista sedimentar, podem
observar-se nos estratos calco-detríticos,
estruturas sin-sedimentares, estratificação
oblíqua e entrecruzada, laminações, olistólitos,
entre outras, com grãos de quartzo, grosseiros e
irregulares, feldspatos e micas detríticas no seu
interior.
Estas camadas têm também grande interesse
paleontológico, uma vez que contêm uma grande
variedade e boa exposição de crinóides,
(fotos - Fragmentos de Pentacrinus Penichensis (fotogra as - Daniela Andrade, 2015)
ostreídeos, amonites e polipeiros, entre outros,
geralmente fragmentados e provenientes de águas pouco profundas mas posteriormente
depositados num leque submarino mais profundo, onde se destaca a espécie de crinóide
Pentacrinus Penichensis, nome que reflecte o local onde foi descrito (Peniche).
BIBLIOGRAFIA:
Rilo, A. L., Duarte, L. V., Tavares, A. – “As falésias calcárias da península de Peniche (costa ocidental portuguesa): Inventariação e
caracterização do património geológico” in Cuadernos del Museo Geominero, nº 12, Instituto Geológico y Minero de España, Madrid, 2010
Romão, J. M. – “Património geológico no litoral de Peniche: geomonumentos a valorizar e divulgar” in Geonovas nº 22, publicação da
Associação Portuguesa de Geólogos, Junho 2009.