Page 165 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
P. 165
— Faz, sim — disse Katherine. — A CIA sempre investiu em inovações tecnológicas e realizou
experimentos com ciências místicas: percepção extrassensorial, visualização remota, privação
sensorial, estados mentalizados induzidos por drogas. É tudo a mesma coisa: formas de entrar em
contato com o potencial invisível da mente humana. Se aprendi algo com Peter, foi o seguinte: a ciência
e o misticismo estão intimamente relacionados e só se distinguem pela abordagem. O objetivo dos dois
é idêntico... apenas os métodos são diferentes.
— Peter me contou — disse Galloway — que sua área de estudos é uma espécie de ciência
mística moderna.
— Chama-se noética — explicou Katherine. — E está provando que o homem tem poderes além
da nossa imaginação. — Ela gesticulou para um vitral que exibia a famosa imagem do “Jesus
Luminoso”: Cristo com raios de luz emanando da cabeça e das mãos. — Acabo de fazer um
experimento usando uma câmera CCD, com dispositivo de carga acoplado super-resfriado, para
fotografar as mãos de um curandeiro em ação. As fotos ficaram muito parecidas com a imagem de
Jesus nesse vitral... e mostram feixes de energia saindo das pontas dos dedos do curandeiro.
A mente bem treinada, pensou Galloway, escondendo um sorriso. Como a senhora acha que
Jesus curava os doentes?
— Eu sei — disse Katherine — que a medicina moderna ridiculariza os curandeiros e xamãs,
mas vi isso com meus próprios olhos. Minhas câmeras CCD fotografaram claramente esse homem
transmitindo um enorme campo energético pelas pontas dos dedos... e literalmente modificando a
disposição celular do paciente. Se isso não é poder divino, não sei o que seria.
O decano Galloway se permitiu sorrir. Katherine possuía a mesma paixão arrebatada do irmão.
— Peter certa vez comparou os cientistas noéticos aos primeiros exploradores que eram alvo de
chacota por acreditar no conceito herege de uma Terra esférica. Quase da noite para o dia, depois de
descobrir mundos nunca antes visitados e expandir os horizontes de todas as pessoas do planeta,
esses exploradores se transformaram de tolos em heróis. Peter acha que a senhora também vai fazer
isso. Ele deposita muitas esperanças no seu trabalho. Afinal de contas, todas as grandes mudanças
filosóficas da história começaram com uma única ideia ousada.
Galloway sabia, é claro, que não era preciso ir a um laboratório para obter provas dessa nova e
ousada ideia, dessa teoria do potencial não explorado do homem. Ali, naquela catedral, organizavam-se
rodas de oração para curar doentes que alcançavam muitas vezes resultados milagrosos e
transformações físicas documentadas pela medicina. A questão não era se Deus havia imbuído o
homem de grandes poderes... mas sim o que era preciso fazer para liberá-los.
O velho decano colocou as mãos nas laterais da Pirâmide Maçônica em um gesto de reverência
e disse bem baixinho:
— Meus amigos, não sei exatamente para onde esta pirâmide aponta... mas sei uma coisa.
Existe um grande tesouro espiritual enterrado por ai em algum lugar... um tesouro que está esperando
pacientemente no escuro há muitas gerações. Acredito que seja um catalisador com o poder de
transformar este mundo. — Ele tocou a ponta de ouro do cume. — E agora que esta pirâmide está
montada... a hora está chegando depressa. E por que não? A promessa de uma grande iluminação
transformadora vem sendo profetizada desde o início dos tempos.
— Reverendo — disse Langdon em tom desafiador —, nós todos conhecemos a Revelação de
São João e o significado literal do Apocalipse, mas a profecia bíblica não parece exatamente...
— Ora, o Livro do Apocalipse é um caos! — falou o decano. — Ninguém sabe como interpretar
aquilo. Estou falando de mentes lúcidas escrevendo em linguagem clara: das previsões de Santo
Agostinho, Sir Francis Bacon, Newton, Einstein, e a lista continua, todos prevendo um instante de
iluminação transformador. Até o próprio Jesus disse: “Não há nada oculto que não será revelado, nem
segredo que não virá à luz.”
— É uma previsão bem fácil de se fazer — disse Langdon. — O conhecimento aumenta de
forma exponencial. Quanto mais sabemos, maior a nossa capacidade de aprender e mais depressa
expandimos nossa base de conhecimento.
— É verdade — acrescentou Katherine. — Nós vemos isso na ciência o tempo todo. Cada nova
tecnologia que inventamos se torna uma ferramenta para inventar outras... e isso vira uma bola de
neve. É por essa razão que a ciência avançou mais nos últimos cinco anos do que nos 5 mil anteriores.
Crescimento exponencial. Matematicamente, com o passar do tempo, a curva exponencial do progresso
se torna quase vertical, e novos desdobramentos ocorrem incrivelmente depressa.
Um silêncio pesado tomou conta da sala do decano, e Galloway sentiu que seus dois
convidados ainda não faziam a menor ideia de como a pirâmide poderia ajudá-los a revelar o que quer
que fosse. Foi por isso que o destino os trouxe até mim, pensou ele. Eu tenho um papel a
desempenhar.