Page 166 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
P. 166

Durante  muitos  anos,  o  reverendo  Colin  Galloway  e  seus  irmãos  maçons  haviam  exercido  o
          papel de guardiães. Agora tudo estava mudando.
                 Eu não sou mais um guardião... sou um guia.
                 —  Professor  Langdon?  —  disse  Galloway,  estendendo  a  mão  por  cima  da  escrivaninha.  —
          Segure a minha mão, por favor.
                 Robert  Langdon  ficou  inseguro  ao  olhar  para  a  palma  estendida  do  decano  Galloway  à  sua
          frente.
                 Será que nós vamos rezar?
                 Com  educação,  Langdon  esticou  o  braço  e  pôs  a  mão  direita  sobre  a mão  encarquilhada  do
          decano. O velho a segurou com força, mas não começou a rezar.
                     Em vez disso, encontrou o indicador de Langdon e o guiou para baixo até a caixa de pedra que
          antes protegia o cume da pirâmide.
                 — Seus olhos o deixaram cego — falou o decano. — Se o senhor visse com as pontas dos
          dedos, como eu, perceberia que esta caixa ainda tem algo a lhe ensinar.
                 Obediente, Langdon correu a ponta do dedo pelo interior da caixa, mas não sentiu nada. O lado
          de dentro parecia perfeitamente liso.
                 — Continue procurando — incentivou Galloway.
                 Por fim, Langdon sentiu alguma coisa — um minúsculo círculo em relevo, um pontinho no centro
          da base. Ele retirou a mão e olhou para dentro da caixa. O pequeno círculo era praticamente invisível a
          olho nu. O que será isso?
                 — Está reconhecendo esse símbolo? — perguntou Galloway.
                 — Símbolo? — retrucou Langdon. — Não dá para enxergar nada.
                 — Aperte-o.
                 Langdon obedeceu e apertou o pontinho. O que ele acha que vai acontecer?
                 — Pressione-o com o dedo — orientou o decano.
                 Langdon  olhou  de  relance  para  Katherine,  que  exibia  um  ar  intrigado  enquanto  ajeitava  uma
          mecha de cabelo atrás da orelha.
                 Poucos segundos depois, o velho decano assentiu com a cabeça.
                 — Está bom, tire a mão da caixa. A alquimia está completa.
                 Alquimia? Robert Langdon recolheu a mão e ficou sentado em silêncio. Não havia acontecido
          absolutamente nada. A caixa simplesmente continuava ali em cima da escrivaninha.
                 — Nada — disse Langdon.
                 —  Olhe  para  a  ponta  do  seu  dedo  —  retrucou  o  decano.  —  O  senhor  deveria  ver  uma
          transformação.
                 Langdon olhou para o dedo, mas a única transformação que pôde ver foi que passara a exibir na
          pele uma pequena marca feita pelo relevo esférico — um círculo diminuto com um pontinho no meio.
                 — Agora está reconhecendo o símbolo? — perguntou o decano.
                 Embora  Langdon  o  reconhecesse,  estava  mais  impressionado  pelo  fato  de  o  decano  ter
          conseguido identificá-lo. Ver com a ponta dos dedos era aparentemente uma habilidade adquirida.
                 — Ele vem da alquimia — disse Katherine, deslizando a cadeira mais para perto e examinando o
          dedo de Langdon. — É o antigo símbolo do ouro.
                 — De fato. — O decano sorriu, dando um tapinha na caixa. — Parabéns, professor. O senhor
          acaba  de  conseguir  o  que  todos  os  alquimistas  da  história  lutaram  para  obter.  A  partir  de  uma
          substância sem valor, o senhor criou ouro.
                 Langdon franziu o cenho, nem um pouco impressionado. Aquele pequeno truque de salão não
          parecia ajudar em nada.
                 — É uma ideia interessante, senhor, mas infelizmente esse círculo com um pontinho no meio,
          chamado circumponto, tem dezenas de significados. Ele é um dos símbolos mais usados da história.
                 — Do que o senhor está falando? — indagou o decano com ceticismo.
                 Langdon  ficou  espantado  que  um  maçom  não  conhecesse  melhor  a  importância  espiritual
          daquele símbolo.
                 — Meu senhor, o circumponto tem inúmeros significados. No Antigo Egito, era o símbolo de Rá,
          o deus-sol, e a astronomia moderna ainda o utiliza da mesma forma. Na filosofia oriental, ele representa
          o insight espiritual do terceiro olho, a rosa divina e a iluminação. Os cabalistas costumam usá-lo para
          simbolizar o Kether, o mais elevado dos Sephiroth e a “mais escondida de todas as coisas escondidas”.
          Os primeiros místicos chamavam-no de Olho de Deus, e ele é a origem do olho que tudo vê do Grande
          Selo.  Os  pitagóricos  usavam  o  circumponto  como  símbolo  da  Mônada,  a  Divina  Verdade,  a  Prisca
          Sapientia, a união da mente e da alma e o...
   161   162   163   164   165   166   167   168   169   170   171