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Sato ouvira dizer que hoje em dia existiam “laboratórios de experiências extremas” nos quais era
possível testar esses tanques de Ventilação Líquida Total — ou “Máquinas de Meditação”, como eram
chamados. Aquele tanque ali provavelmente havia sido instalado para as experiências particulares de
seu dono, embora o acréscimo de trincos pesados fizesse Sato ter quase certeza de que aquele tanque
também fora usado para propósitos mais obscuros... uma técnica de interrogatório que a CIA conhecia
bem.
A infame técnica de interrogatório conhecida como water boarding é altamente eficaz porque a
vítima acredita mesmo estar se afogando. Sato sabia de várias operações confidenciais em que
tanques de privação sensorial como aquele haviam sido usados para levar essa ilusão a níveis
aterrorizantes. Uma vítima submersa em líquido respirável podia ser literalmente “afogada”. O pânico
associado à experiência do afogamento em si fazia com que a vítima, em geral, nem percebesse que o
líquido que estava respirando era mais viscoso do que a água. Quando ele entrava em seus pulmões, a
pessoa em geral desmaiava de medo, acordando em seguida no mais perfeito “confinamento solitário”.
Anestésicos tópicos e drogas de efeito paralisante e alucinógeno eram misturados ao líquido
oxigenado para dar ao prisioneiro a sensação de que ele estava totalmente separado do próprio corpo.
Quando sua mente enviava comandos para mover pernas e braços, nada acontecia. O estado de
“morte” por si só já era apavorante, mas a verdadeira desorientação vinha do processo de
“renascimento”, que, com o auxílio de luzes intensas, ar frio e barulho ensurdecedor, podia ser
extremamente traumático e doloroso. Após um punhado de “renascimentos” e afogamentos
subsequentes, o prisioneiro ficava tão desorientado que não fazia mais ideia se estava vivo ou morto...
e contava absolutamente qualquer coisa a quem estivesse conduzindo o interrogatório.
Sato ficou na dúvida se deveria esperar a chegada de uma equipe médica para retirar Langdon
do tanque, mas sabia que não tinha tempo para isso. Preciso descobrir o que ele sabe.
— Apaguem as luzes — disse ela. — E arrumem uns cobertores.
O sol ofuscante havia desaparecido.
O rosto também sumira.
A escuridão estava de volta, mas Langdon agora podia ouvir sussurros distantes ecoando pelos
anos-luz de vazio. Vozes abafadas... palavras ininteligíveis. Em seguida começaram as vibrações...
como se o mundo estivesse prestes a se despedaçar.
Então aconteceu.
Sem aviso, o Universo se rasgou ao meio. Um imenso abismo se abriu no vazio.., como se as
costuras do próprio espaço houvessem arrebentado. Uma névoa acinzentada se derramou pela
abertura, e Langdon viu uma imagem aterradora. Mãos soltas no ar de repente se estendiam para pegá-
lo, agarrando seu corpo, tentando arrancá-lo de seu mundo.
Não! Ele tentou se desvencilhar das mãos, mas não tinha braços... nem punhos. Ou será que
tinha? De repente, sentiu o próprio corpo se materializar ao redor de sua mente. Sua carne voltara a
existir e estava sendo agarrada por mãos fortes que o puxavam para cima. Não! Por favor!
Mas era tarde demais.
A dor fustigou seu peito enquanto as mãos o suspendiam pela abertura. Seus pulmões pareciam
cheios de areia. Não consigo respirar! De repente, estava deitado de costas na superfície mais fria e
dura que poderia imaginar. Alguma coisa não parava de pressionar seu tórax, com força,
dolorosamente. Ele estava cuspindo o calor.
Eu quero voltar.
Tinha a sensação de ser uma criança saindo do útero.
Em meio a convulsões, Langdon tossia para eliminar o líquido. Seu peito e pescoço doíam. Uma
dor excruciante. Sua garganta estava em chamas. Pessoas falavam, tentando sussurrar, mas o barulho
era ensurdecedor. Com a visão embaçada, tudo o que conseguia ver eram formas indistintas. Sua pele
estava dormente e parecia feita de couro.
Sentia o peito mais pesado... sob pressão. Não consigo respirar!
Tossiu mais líquido. Então um reflexo instintivo fez com que inspirasse com força, o ar frio
penetrando-lhe os pulmões, como se fosse um recém-nascido respirando pela primeira vez. O mundo
era um tormento. Tudo o que Langdon queria era voltar para o útero.
Robert Langdon não fazia ideia de quanto tempo havia transcorrido. Podia sentir que estava
deitado de lado sobre um chão duro, envolto em toalhas e cobertores. Um rosto conhecido o olhava de
cima... mas a luz gloriosa tinha sumido. Os ecos de cânticos distantes ainda soavam em sua mente.
Verbum significatium... Verbum omnificum...
— Professor Langdon? — sussurrou alguém. — O senhor sabe onde está?
Langdon assentiu com fraqueza, ainda tossindo.