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PELO MUNDO | FRANÇA
Absinto
Misteriosa e proibida, a bebida foi mais
consumida que o vinho na França durante anos
Luiz André Batistello
Após a crise da filoxera na Europa no a criatividade. as bebidas com anis na sua composição.
século XIX, a produção de vinhos estava As primeiras destilarias foram criadas no Após décadas de popularidade, o consu-
arruinada e oferecendo produtos de baixa Cantão Suíço de Neufchâtel em 1792. A mo de absinto, então superior ao de vinho,
qualidade. A sociedade pariense, em uma maternidade da bebida é atribuída a uma começa a gerar problemas sociais ligados
era de crescimento econômico promovido curandeira chamada Henriette Henriod. Em ao alcoolismo. A indústria de vinho, em
pela Revolução Industrial, com a prolife- 1797, a receita foi comprada pelo Major vias de recuperação após crise da filoxera,
ração de cafés e restaurantes, buscava Dubied e seu genro Henri-Louis Pernod, tentando retomar seu mercado, deu início
novidades. os quais fundaram na cidade francesa de a uma campanha difamatória jamais vista
A erva Artemisia absinthium, conhecida Pontarlier uma destilaria que se tornaria a na história das bebidas alcoólicas. Alega-
desde a antiguidade por suas proprieda- maior da França. Esta empresa foi a origem ções de toda a forma foram utilizadas. A
des medicinais é o principal ingrediente do atual grupo Pernod. campanha difamatória levaria a proibição
da bebida. Na Grécia clássica, Pitagoras e Rapidamente a bebida ganha os bares e do absinto na Suíça em 1910, nos Estados
Hipócrates já exaltavam um álcool produ- cafés parisienses e se torna extremamente Unidos em 1912, e na França em 1915.
zido a base de absinto capaz de aumentar popular no meio artístico. Entre seus mais A fábrica da Pernod foi fechada, mas anos
famosos apreciadores figuravam: Oscar mais tarde, em um golpe de mestre, eles lan-
FOTOs/dIVuLGAçãO Wilde, Picasso, Rimbaud, Verlaine, Ernest çariam a Pastis, cujos ingredientes são quase
Hemingway, Edgar Degas, Vincent van os mesmos do absinto, porém, sem a adição
da artemisia e outras ervas responsáveis pela
Gogh, só para citar alguns.
No início do século XX, pouco antes da coloração esverdeada. Pastis é o destilado
Primeira Guerra Mundial, as pessoas se mais consumido da França, principalmente
reuniam nos bares após as 17 horas para na Costa do Mediterrâneo e se toma diluída
beber absinto num ritual que era chamado com água, assim como o absinto.
de a ‘Hora Verde’ (l´heure verte). Para o A ‘fada verde’, como era chamada,
consumo do absinto, que poderia ter entre estava banida de toda a Europa e só seria
40 e 90% de álcool, uma preparação ante- reabilitada em 2005, na Suíça, e após na
rior é necessária. O absinto não é feito para França, mas carregando ainda um gostinho
ser tomado puro, mas deve ser diluído com proibido. Atualmente, produtores enviam
água. A maneira tradicional consiste em amostras para concursos de vinhos e desti-
colocar um cubo de açúcar em uma colher lados como o Concours Agricole de Paris.
especial perfurada e a seguir, versar lenta- No Brasil, o empresário paulista Lalo Zanini
mente água gelada sobre o açúcar que irá foi responsável pela reintrodução do absinto
cair no copo contendo o absinto. Ao se diluir na América Latina, em 1999.
com a água, a bebida ganha um aspecto
turvo esbranquiçado, que é comum para luizbatistello@hotmail.com
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