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Manuel Abranches de Soveral                                   FRAGMENTA HISTORICA


             cuja biografia já ficou largamente referida.   de 1496 em Viana do Castelo; neta paterna
             Torres  diz que “foi Dez do Paço Chanceler   de outro Pedro Couceiro, n. cerca de 1440,
                                or
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             Mór do Reyno e pessoa de muita authoridade   cavaleiro que também viveu em Tentúgal e
             em tempo dos Reys D. M  e D. João o 3º, e   foi senhor da dita quinta, e de sua mulher
                                 el
             do seu Consº. El Rey D. Sebastião lhe deu o   Beatriz  Gonçalves;  e  neta  materna  de
             dº  cargo  no  anno  de  1559  e  no  de  71  lhe   Jorge de Eça , n. cerca de 1474, e de sua
                                                                   595
             deu  a  comenda  de  S.  Pedro  das  Gouveias
             da Ordem de Christo”, o que, como vimos,   595  A 2.8.1724 o escrivão do Cartório da Nobreza Simão
             nem  tudo  é  bem  assim.  Em  síntese,  foi   da Silva Lamberto passou uma certidão de nobreza ao
             cavaleiro  dos  Conselhos  de  D.  João  III  e   Padre  António  Cabral  Freire  Couceiro  e  seus  irmãos,
             D.  Sebastião,  desembargador  do  Paço,   sobrinhos do Padre Manuel Fernandes Lobato Couceiro,
                                                      que a 30 de Março desse ano tivera carta de armas para
             chanceler da Casa do Cível, desembargador   Lobato  e  Couceiro.  Nessa  certidão  declara  que  esses
             e ouvidor do crime da Casa da Suplicação,   Couceiro  descendem  de  Jorge  Couceiro  de  Eça,  da
             presidente e chanceler vitalício da Câmara   nobre família dos Eça, natural de Alenquer, fidalgo da
             de  Lisboa,  corregedor-mor  da  comarca   Casa de D. Afonso V, comendador da Ordem de Santiago
                                                      e capitão de ginetes que esteve na batalha de Tavira ao
             da  Beira  e  Riba-Côa  e  provedor-mor  dos   serviço  do  duque  de  Bragança,  e  de  sua  mulher  D.
             portos,  senhor  da  quintã  de  Vila  Maior   Helena  de  Alvim,  natural  de  Viana  (do  Castelo),  dos
             (Vouzela) e dos coutos de Vimieiro (Braga) e   quais foi filho, entre outros, Pedro Couceiro, que viveu
             da Lageosa (Guimarães), cavaleiro professo   na cidade de Coimbra e casou em Tentúgal (não sendo
                                                      nomeada  a  mulher),  sendo  deles  filho  outro  Pedro
             da  Ordem  de  Cristo  (11.3.1521)  e  nesta   Couceiro,  morador  em  Tentúgal,  do  qual  descendia  o
             ordem comendador de Nossa Senhora        senhor da Trofa Luís Tomaz de Lemos e Carvalho (vide
             da  Fresta  (Trancoso)  e  de  São  Pedro  de   Affonso  de  Dornellas,  “Heraldica  de  Familia”,  in
             Gouveias  (Pinhel),  e  fundou  o  mosteiro   “Elucidario  Nobiliarchico”,  Vol.  2,  p.  350  e  seguintes).
                                                      Mas esta genealogia não pode estar certa. Desde logo,
             de  Santa  Clara  de  Trancoso.  Instituiu  em   não  se  documenta  nenhum  Jorge  Couceiro  de  Eça,  o
             1530,  ou  pouco  antes,  os  morgadios  de   que em princípio seria coisa fácil, pois é dito fidalgo da
             Vila  Maior  e  Lamarosa,  este  numa  quinta   Casa de D. Afonso V, comendador de Santiago e capitão
             do mesmo nome que teve em dote do 1º     de  Cavalos.  Não  houve  nenhuma  batalha  de  Tavira,
                                                      devendo ser erro de leitura talvez por batalha de Touro.
             ou 2º casamentos. Casou a 1ª vez cerca de   Por outro lado, nenhuma genealogia refere esse Jorge
             1524 em Tentúgal com Guiomar Couceiro    Couceiro de Eça, sendo que, se viveu no reinado de D.
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             (a), n. cerca de 1510 e fal. cerca de 1528,   Afonso V (que reinou de 1438 a 1481), obrigava a que
             possivelmente de parto de sua última filha.   fosse  neto  de  D.  Fernando  de  Eça,  o  1º  deste  nome,
                                                      falecido  em  1478,  o  que  é  impossível.  Acresce  que  o
             Era  irmã  de  Joana  Couceiro,  casada  com   Pedro  Couceiro  dado  como  neto  paterno  de  Jorge
             o  alcaide-mor  de  Tentúgal  Lopo  de  Souza   Couceiro de Eça era irmão de Heitor Couceiro, cavaleiro
             Ribeiro, ambas filhas de Pedro Couceiro ,   professo da Ordem de Cristo (18.9.1512 - ANTT, Ordem
                                             594
             n.  cerca  de  1475,  cavaleiro,  senhor  da   de  Cristo,  Convento  de  Tomar,  mç.  66,  nº  3,  fól.  14),
                                                      ambos filhos de Pedro Couceiro e sua mulher Beatriz
             quinta de Lamarosa, no termo de Tentúgal,   Gonçalves,  moradores  em  Tentúgal.  E  este  Pedro
             e de sua mulher Helena de Alvim, n. cerca   Couceiro,  nascido  cerca  de  1440,  era  filho  de  Fernão
                                                      Couceiro, regedor em Tentúgal em 1437, que em 1452
                                                      teve do convento de São Marcos o prazo de umas casas
           592  Afonso de Torres, ob. cit.            defronte da torre dos paços do concelho de Tentúgal, e
           593  Segundo Afonso de Torres, ob. cit., que diz que a 2ª   neto  de  Diogo  Couceiro,  escudeiro  morador  em
           mulher (que não nomeia) era irmã da 1ª. Alão chama   Tentúgal  nos  reinados  de  D.  Fernando  e  D.  João  I.
           D. Maria Couceiro à 1ª mulher e D. Guiomar Couceiro   Estabelecido que Pedro Couceiro, o Velho, não era filho
           à 2ª, o que é errado, pois a 2ª mulher documenta-se   de Jorge Couceiro de Eça e que este não existiu nem
           como Francisca Couceiro. Alão diz ainda que para casar   podia  ter  existido,  que  interpretação  podemos  fazer
           com a 2ª mulher teve dispensa de D. João III, coisa que   daquela informação genealógica de 1724? Na verdade,
           não encontrei.                             pode  bem  tratar-se  de  uma  confusão,  deliberada  ou
           594   Irmão  de  Heitor  Couceiro,  cavaleiro  professo  da   não, e esse Jorge, apenas de Eça e não Couceiro, ser
           Ordem de Cristo (18.9.1512 - ANTT, Ordem de Cristo,   afinal  sogro  de  Pedro  Couceiro  o  Novo.  Neste  caso,
           Convento de Tomar, mç. 66, nº 3, fól. 14, onde consta   Jorge de Eça teria nascido cerca de 1474, ainda de facto
           como  filho  de  Pedro  Couceiro  e  sua  mulher  Beatriz   no reinado de D. Afonso V, mas sobretudo viveu como
           Gonçalves, moradores na freguesia de Santa Maria do   adulto nos reinados de D. Manuel I e D. João III. Numa
           Mourão (Tentúgal).                         certidão  de  1724  passada  por  Frei  José  da  Cruz,  da


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