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FRAGMENTA HISTORICA Cristóvão Mendes de Carvalho ‐ História de um alto
magistrado quinhentista e de sua família
Ordem de São Paulo (vide ob. cit.) diz-se que o antedito carta, D. Manuel I não lhe dá qualquer destaque, nem
Padre Manuel Fernandes Lobato Couceiro, que tirou sequer o referindo como fidalgo da sua Casa. Ora, se
carta de armas em 1724, é filho de Maria Couceiro, neto Diogo Anes de Eça fosse filho de D. Isabel de Eça seria
de Manuel Couceiro, bisneto de Beatriz Couceiro, primo do rei, sendo ambos trinetos de D. Pedro I. Na
trineto de Francisco Couceiro, 4º neto de Pedro dita carta real é referido como diogo anes deça,
Couceiro e 5º neto de Jorge Couceiro de Eça. Mas na contracção esta que se vê também nos verdadeiros Eça.
carta de armas, a ascendência do dito padre vai apenas Acontece, porém, que existiu uma família Daça, muito
até Francisco Couceiro, “da antiga & nobre família dos anterior, que o conde D. Pedro inicia em Rodrigo Álvares
Couceiros”, passando-se-lhe armas de Lobato (pelo pai) Daça, com dois filhos: Álvaro Rodrigues e Fernão
e de Couceiro (pela mãe), sem qualquer referência aos Rodrigues. Aliás, os verdadeiros Eça também se
Eça ou a Jorge Couceiro de Eça. Parece assim que não documentam, por vezes, como daça, ainda no séc. XVII.
pegou a tentativa do padre de entroncar nos Eça e Por outro lado, também se documentam alguns Daça
porventura receber armas desta família. Porque os Reis (ou Daza) que passaram a Eça. Pelo que Diogo Anes de
de Armas, apesar da sua proverbial ignorância, terão Eça bem podia ser dos Daça. Sendo certo que, pela
feito o mesmo raciocínio ou de outra forma teriam cronologia, o patronímico e o facto de não ter Dom,
informação em contrário. Na verdade, se Jorge de Eça Diogo Anes de Eça só podia ser Eça verdadeiro se fosse
era sogro de Pedro Couceiro, o Novo, o padre não neto materno de D. Fernando de Eça e filho de um João.
descendia dele, na medida em que seu trisavô Francisco Tendo em conta que D. Fernando de Eça era padroeiro
Couceiro era irmão de Pedro Couceiro, o Novo. Já os do convento do Espírito Santo de Gouveia, onde foi
senhores da Trofa podiam de facto descender de Jorge sepultado a 25.1.1479, sendo Gouveia bem próximo de
de Eça, se na verdade ele foi sogro de Pedro Couceiro, o Valhelhas e da Covilhã, que outras possibilidades há de
Novo, na medida em que o referido senhor da Trofa Luís Diogo Anes de Eça ser neto materno de D. Fernando?
Tomaz (1697-1756) era 4º neto deste Pedro. Sobre a Na verdade, duas. Desde logo, em teoria, podia ser um
possível identidade desse Jorge de Eça sogro de Pedro desconhecidíssimo filho da abadessa de Celas (Coimbra)
Couceiro, o Novo, julgo tratar-se do único Jorge de Eça D. Beatriz de Eça e do bispo de Viseu D. João Gomes de
que documento nesta cronologia sem Dom. Trata-se do Abreu. Mas os dois filhos que se documentam desta
Licenciado Jorge de Eça que a 3.2.1539 foi nomeado juiz relação foram: Pedro Gomes de Abreu, legitimado por
de fora da Covilhã (ANTT, Chancelaria de D. João III, Liv. carta real de 8.3.1479, que casou com a senhora de
26, fól. 261v). Esta ligação à Covilhã, associada ao facto Tábua, c.g., e Diogo Gomes de Abreu, também
de o nome Eça ser ainda muito recente e portanto legitimado, que casou com D. Teresa de Azevedo, s.g.,
pouco disseminado, leva-me a propor que este Jorge de deixando um filho bastardo, Pedro Gomes de Abreu.
Eça, nascido cerca de 1474, seja irmão de Duarte de Portanto, aqui já existia um Diogo, não sendo nada
Eça, nascido cerca 1475 (vide Manuel Abranches de provável a existência de outro. Finalmente, temos a D.
Soveral, “História genealógica dos Correa Manoel de Branca de Eça, nascida cerca de 1435, que casou cerca
Aboim, administradores da capela de S. Lourenço de de 1453 com João Rodrigues de Azevedo, “o Boi”,
Óbidos (1319), senhores do palácio dos Aboim (Lisboa), fidalgo da Casa Real e vedor dos vassalos reais da vila da
viscondes de Idanha e Vila Boim”, Setembro de 2014, Arruda a 30.7.1469 (ANTT, Chancelaria de D. Afonso V,
Caminhos Romanos, p.181). Jorge de Eça seria portanto Liv. 31, fól. 86v), sendo pais de D. Joana de Eça, também
filho de Diogo Anes de Eça, que as genealogias dizem abadessa do convento de Celas, e de Duarte de
morador na Covilhã e irmão da duquesa de Azevedo, também fidalgo da Casa Real e vedor dos
Villahermosa, portanto filho do castelhano João de vassalos reais da vila da Arruda, confirmado no cargo a
Sottomayor e de sua mulher D. Isabel de Eça, filha de D. 20.8.1497, como já fora no reinado de D. João II (ANTT,
Fernando de Eça e neta do infante D. João. Como digo Chancelaria de D. Manuel I, Liv. 28, fól. 88). João
na antedita obra, esta filiação de Diogo Anes de Eça é Rodrigues de Azevedo não era um grande fidalgo, sendo
certamente fantasiosa, sendo certo que o documentei filho do nobilitado Doutor Rui Fernandes, jurisconsulto
juiz dos órfãos de Valhelhas. Com efeito, a 11.9.1520 D. e do Conselho de D. Afonso V, e de sua mulher Ana de
Manuel I comunicou aos juízes de Valhelhas e aos Azevedo. A 1.4.1451 D. Afonso V doou a João Rodrigues,
vereadores e procurador da dita vila e a outros filho do doutor Rui Fernandes, fidalgo da sua Casa,
quaisquer juízes e oficiais, a confirmação do documento enquanto sua mercê for, uma tença anual para estudos
feito por Pedro Anes, tabelião da dita vila, no qual de 5.140 reais de prata (ANTT, Chancelaria de D. Afonso
faziam menção que estando em Câmara fora eleito V, 11, 24v). Em 1462 João Rodrigues de Azevedo, dito
Diogo Anes de Eça para juiz dos órfãos na dita vila “filho do doutor”, era cavaleiro fidalgo da Casa Real com
(ANTT, Chancelaria de D. Manuel I, Liv. 39, fól. 9 e 9v). 1.500 reais de moradia (Provas da História Genealógica
Tendo seu filho Duarte de Eça nascido cerca de 1478, da Casa Real, ob. cit.). João Rodrigues só casou com D.
Diogo Anes de Eça nasceu cerca de 1454, o que, do Branca de Eça depois de 7.3.1453, pois esta foi a 2ª
ponto de vista cronológico, permitia que fosse irmão da mulher do Dr. Vasco Fernandes, nascido cerca de 1400,
duquesa de Villahermosa, nascida também cerca de cavaleiro do Conselho, desembargador do Paço, doutor
1452, e portanto também filho de D. Isabel de Eça, em Leis, etc., que ainda se documenta vivo naquela
nascida cerca de 1428. Teria assim, por eleição da data. Será que Diogo Anes de Eça, nascido cerca de
Câmara de Valhelhas, sido juiz dos órfãos com cerca de 1454, podia ser seu filho? Neste caso, apesar de não ser
68 anos, coisa absolutamente natural. Mas, na sua referido como fidalgo da Casa Real, tal como são os
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