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FRAGMENTA HISTORICA                             A diplomacia de D. Manuel I segundo um
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           portanto  perante  uma  fonte  pertinente  para   seja,  situações  em  que  o  autor  teve  dúvidas
           o apuramento  dos  dados  sobre  as  relações  quanto à natureza (mais ou menos formal) da
           diplomáticas no tempo de D. Manuel I, ainda   missão.  Parece-me  que,  na maior parte dos
           que insuficiente.                          casos,  o que  fez o compilador duvidar foi o
           Os restantes testemunhos consultados e     facto de as fontes consultadas (quase sempre
           citados por Francisco Dionísio de Almeida,   a crónica de  Damião de  Góis) não incluírem
           tendo  em  conta  a  reduzida  quantidade  de   explicitamente os termos “embaixador”  ou
           dados  que  permitiram  apurar,  assumem   “embaixada”, o que levava Francisco Dionísio,
           um caráter complementar face à crónica de   numa atitude cautelosa, a colocar em causa o
           Damião de Góis. Isso torna-se particularmente   caráter da missão, que teria de ser confirmado
           evidente se olharmos às escassas quatro cartas   com recurso a outras fontes.  Possivelmente,
           originais que são referidas, que indiciam que   nem  sempre  se  justificaria  uma  atitude  tão
           nenhum fundo de documentação manuscrita    prudente,  uma  vez  que  o  perfil  do  agente
           deve ter sido investigado de forma sistemática   (aspeto abordado mais à frente) e o objetivo
           pelo autor. Não podemos esquecer, contudo,   que o levava ao estrangeiro poderiam por si só
           que os catálogos de que dispomos eram um   indiciar com um grau de probabilidade elevado
           trabalho em curso que Francisco Dionísio   que se  tratava de  um embaixador e de uma
           pretendia completar e aprofundar, como dão   embaixada,  mesmo  que  o  cronista  não  se
           conta quer as suas declarações na sessão de 18   lhe  referisse  assim.  Por  exemplo,  quando
           de dezembro de 1721 da Academia da História,   Álvaro de Bragança é enviado a Castela, entre
           quer o incitamento à contribuição dos seus   1496  e  1497,  para  tratar  do  casamento  de  D.
           pares expresso no final de cada uma das partes   Manuel  com  a  princesa  D.  Isabel,  filha  dos  Reis
           do manuscrito.                             Católicos, não há grande margem para duvidar
                                                      de que esta missão foi,  formalmente,  uma
           Em síntese: as listas de missões diplomáticas   embaixada.  Tendo  isto  em  conta,  na  análise
           do reinado de D. Manuel I elaboradas por   que  se  segue  optou-se  por,  com  algumas
           Francisco Dionísio de Almeida baseiam-se   exceções, associar a primeira e a última das listas
           maioritariamente na  Crónica do Felicíssimo   elaboradas por Francisco Dionísio de Almeida .
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           Rei D. Manuel, de Damião de Góis,          Não tendo havido a possibilidade de confirmar,
           complementada, em alguns pontos, por outros   caso a caso, a natureza formal de cada uma
           registos cronísticos e por pouca documentação   das missões, é certo que em quase todas elas foi
           original  avulsa  (no  próximo  ponto,  verificar-  enviado  ao  estrangeiro  um  ou  mais  agentes  da
           se-á que o autor trabalhou estes testemunhos   Coroa portuguesa para tratar de negócios do
           com enorme prudência e respeito pela letra do   reino  com  representantes  de  outras  entidades
           que  estava escrito).  Trata-se  de  um conjunto   políticas .
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           de fontes pertinentes e representativas face ao
           objeto de estudo, ainda que insuficientes tendo   26  Pelas mesmas razões, procedeu-se de igual forma em
           em conta a exaustividade que se pretenderia   relação às embaixadas recebidas.
           alcançar.                                  27  Veja-se em anexo o quadro das missões enviadas ao
                                                      estrangeiro. Nem todas as referências efetuadas por
                                                      Francisco Dionísio de Almeida nos dois catálogos foram
           2. Embaixadas enviadas                     incluídas, pois algumas dizem respeito a uma única
                                                      missão ou não parecem sequer constituir uma missão
                                                      diplomática. São os casos: da presença de Pero Correia
                                                      na Flandres em 1518, que tudo indica fazer ainda parte
           Ao abordar as missões diplomáticas enviadas   da embaixada por si liderada que foi enviada ao Império
           por D. Manuel I ao estrangeiro, há que ter   em  1516  (fl.  18);  do  envio  de  Francisco  Fernandes  a
           em  conta  a  distinção  que  Francisco  Dionísio   Roma em 1495 para entregar uma procuração de D.
           de Almeida efetuou entre as que foram      Manuel ao cardeal D. Jorge da Costa (fl. 23); do envio
                                                      de  Pero  Correia  a  Roma  em  1496  para  transmitir
           efetivamente  embaixadas  e  os  agentes  que   informações  a  D.  Jorge  da  Costa  (fl.  23);  do  envio  a
           foram “sem caráter e outros se ignora”, ou   Roma  de  João  Subtil,  para  se  juntar  a  Duarte  Galvão
                                                      no pedido ao papa de que promovesse uma cruzada


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