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FRAGMENTA HISTORICA A diplomacia de D. Manuel I segundo um
manuscrito da Biblioteca Britânica
cardeais, um prior de Guimarães). Um A experiência prévia poderia ser útil, mas não
deles, D. Henrique Coutinho, também era fundamental, por isso tanto deparamos
serviu D. Manuel como Desembargador com indivíduos que desempenharam diversas
do Paço e das Petições. missões (e que seriam, de algum modo,
3. Dos cinco letrados, quatro integraram o especialistas em funções dessa natureza) como
desembargo do Venturoso e detinham com outros que as executaram pontualmente.
graus académicos: três doutores e um Certo é que a existência de carreiras
licenciado. A esses juntava-se Duarte exclusivamente diplomáticas era ainda uma
Galvão, que foi secretário de D. Afonso realidade distante.
V e cronista-mor do reino. Os destinos
das suas missões eram diversificados: 5. Caminhos a prosseguir
Castela, Roma, Aragão, Império.
4. Em relação aos embaixadores cujo perfil Os dados aqui apresentados sobre a diplomacia
está insuficientemente documentado e/ de D. Manuel I são, como já foi referido,
ou que é impossível enquadrar num dos condicionados pela natureza e limitações da
três perfis gerais, destacam-se as ligações fonte em que se baseia este estudo. Por isso,
de Cristóvão Barroso, Pero Correia e mais do que constituírem um quadro seguro,
Tomé Lopes à Flandres e o papel que as informações avançadas podem servir
a feitoria portuguesa em Antuérpia sobretudo como indiciadoras de linhas gerais
teria no relacionamento político entre e de tendências que só trabalhos muito mais
Portugal e o Império . aprofundados poderão confirmar ou infirmar.
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Quer porque os catálogos aqui analisados Os caminhos a prosseguir poderão passar por:
não são exaustivos em relação ao reinado 1. Exame mais pormenorizado dos factos
de D. Manuel I, quer porque as notícias sumariados por Francisco Dionísio de
biográficas que acompanham este estudo Almeida. Isso implicaria que em relação
não são absolutamente esclarecedoras, não é a cada embaixada enviada e recebida
possível apresentar conclusões taxativas sobre pelo Venturoso se tentasse apurar
o perfil dos embaixadores do Venturoso. Os ao certo em que datas decorreu, que
indícios apurados apontam para uma escolha itinerários seguiu, que agentes envolveu,
ad hoc dos diplomatas em função da natureza a que documentos deu origem, etc. Para
da missão e do destino. Mais do que o perfil além disso, também poderia ser útil um
social, a proximidade pessoal e política ao inquérito mais aprofundado sobre o
monarca pesariam no processo de seleção . perfil dos embaixadores, que se poderia
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concretizar através da elaboração de um
36 O perfil, as funções e o papel político dos feitores
portugueses em Antuérpia são analisados (e catálogo prosopográfico.
comparados com os dos feitores em Bruges) em: A. H. 2. Alargamento do corpus documental. Para
de Oliveira Marques, “Notas para a história da feitoria além da monumental crónica de Damião
portuguesa na Flandres, no século XV”, in Ensaios de
História Medieval Portuguesa, Lisboa, Vega, 1980, pp. de Góis, outras fontes narrativas podem
159-193, maxime pp. 192-193. ser consultadas, tanto portuguesas
37 Num estudo mais aprofundado, impor-se-ia uma como estrangeiras. A essas deve juntar-
análise detalhada dos vínculos entre estes indivíduos e D. se o exame da diversa documentação
Manuel I, olhando sobretudo às funções que exerceram
na casa do monarca e à integração e participação no diplomática que se encontra disponível
Conselho Real. Alguns desses aspetos têm sido tratados
em trabalhos de Susannah Humble Ferreira: Susannah portuguese Royal Council in the reign of Manuel I (1495-
Charlton Humble, From royal household to royal court: 1521)”, in Portuguese Studies Review, n.º 12, 2004,
a comparison of the development of the courts of Henry pp. 1-17; Susannah Humble Ferreira, “Os castelos e o
VII of England and D. Manuel of Portugal, Tese de Conselho Real: patrocínio político em Portugal (1495-
doutoramento apresentada à John Hopkins University, 1521)”, Revista de História da Sociedade e da Cultura,
2003; S.C. Humble Ferreira, “The development of the n.º 10, tomo I, 2010, pp. 121-139.
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