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Diogo Faria FRAGMENTA HISTORICA
ducado. Por fim, assinale-se a referência a um Os dados sobre os embaixadores do Venturoso
castelhano que “estava por embaixador em identificados nestes catálogos, cujas breves
Portugal”, Fernão de Ayala, e que foi substituído notícias biográficas são apresentadas em
após a morte de Fernando III de Aragão, apêndice, permitiram apurar a seguinte
que remete para a instalação dos primeiros distribuição pelos perfis sociais tradicionais:
diplomatas permanentes no reino, uma prática
com origem nas repúblicas italianas que se
estava a consolidar no Ocidente e que teve na
monarquia católica um dos seguidores mais Tabela 1 – Perfil social dos embaixadores de D.
precoces . Manuel I
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Um quadro diplomático mais diversificado, um Perfil social Número de Percentagem
de
reino aliciado para diversas alianças e operações diplomatas diplomatas
militares, testemunhos dos primórdios da
instalação das embaixadas permanentes em Nobres 10 41,7
Portugal. São estes os principais aspetos que Clérigos 5 20,8
relevam dos catálogos de missões diplomáticas
acolhidas pela corte de D. Manuel I. Letrados 5 20,8
Desconhecido 4 16,7
4. Os embaixadores Total 24 100
Ao longo do século XV, o perfil social do Em linhas gerais, verifica-se que predominam
pessoal diplomático, pelo menos nos reinos os nobres, que representam mais de 40% do
peninsulares, parece ter evoluído no sentido de total de diplomatas, seguidos dos clérigos e
incorporar cada vez menos clérigos e cada vez dos letrados, com valores idênticos (20,8%).
mais letrados, como reflexo da composição dos Estes dados, à primeira vista, são pouco
respetivos Conselhos régios, principal ‘campo conclusivos. De uma análise mais fina
de recrutamento’ de diplomatas . O objetivo ressaltam os seguintes factos:
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deste ponto é verificar qual era o cenário no 1. Os nobres que participaram em
reinado de D. Manuel I, mesmo tendo em missões diplomáticas pertenciam
conta as insuficiências desta tripartição entre maioritariamente a círculos próximos dos
nobres, clérigos e letrados – porque houve monarcas (de D. Manuel mas também de
embaixadores que se enquadraram em mais D. João II), tendo desempenhado cargos
do que uma dessas categorias e porque não é nas suas casas ou na administração.
evidente que a inclusão num desses estatutos, Apenas um foi detentor de um título, D.
por si só, constituísse um critério fundamental Diogo Lobo, segundo barão de Alvito, mas
na seleção dos agentes. outros dois eram filhos de titulares: D.
João de Castelo Branco, provavelmente
34 Miguel Ángel Ochoa Brun, Historia de la diplomacia
española, vol. IV, Madrid, Ministerio de Asuntos filho do conde de Portimão, e D. Rodrigo
Exteriores, 1995, pp. 23-26. de Castro, filho do conde de Monsanto.
35 Isabel Beceiro Pita, “La consolidación del personal Destes aristocratas, seis participaram
diplomático entre Castilla y Portugal (1392-1455)”, in em missões enviadas a Castela e quatro
La Península Ibérica en la Era dos los Descubrimientos.
Actas, III Jornadas Hispano-Portuguesas de Historia integraram embaixadas a Roma.
Medieval, vol. II, Sevilha, Consejería de Cultura de la 2. Os clérigos identificados só foram
Junta de Andalucía, 1997, pp. 1735-1744; Isabel Beceiro
Pita, “La tendência a la especialización de funciones encarregados de missões junto dos
en los agentes diplomáticos entre Portugal y Aragón pontífices e todos se destacaram pelas
(1412-1465)”, XV Congreso de Historia de la Corona de importantes posições que ocuparam na
Aragon. Actas, vol. II, Saragoça, Gobierno de Aragon, hierarquia da Igreja (bispos, arcebispos,
1997, pp. 443-455.
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