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FRAGMENTA HISTORICA                       O intermediário entre o arquiteto e a sua obra. A
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                                                                         reitorado (1770‐1779).
           quanto à própria personalidade de D. Francisco   tijolos . A nomenclatura foi diversa,  Nova
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           de Lemos, demonstrando a sua vertente mais   Fábrica de telha vidrada, Fábrica da Rua João
           controladora,  mas  não  só:  também  podemos   Cabreira, Fábrica das telhas ou até Fábrica de
           entender  o  que  para  ele  significava  o  cargo   telha , e foi sugerida ao Marquês a 9 de julho
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           de Reitor, que deveria ser, para todo o corpo   de 1773. O Reitor ficou impressionado com a
           académico, omnipresente. Assim, entende que   durabilidade da telha vidrada que então cobria
           seria necessário “levantar o tecto das Varandas   a Sala Grande e a Livraria e que se mantinha
           dos Geraes; e se formarem Corredores, que   sem qualquer intervenção de manutenção .
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           circulem todas as Aulas, e dão tribunas para   Encontrada esta alternativa, depressa tratou de
           ellas; das quaes pode o Reytor ver, e observar,   procurar saber os preços do material, chegando
           o que se passa nas ditas Aulas.” .         à conclusão de que para além de conseguir
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           O que mais uma vez fica claro é a autonomia e a   poupar na manutenção pouparia também nos
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           muito considerável liberdade que acompanhou   custos de fabrico . Tendo tudo isto em conta
           o prelado nesta sua cruzada. E como tem vindo   decidiu então iniciar a construção da fábrica,
           a  ficar  exposto,  não  foi  apenas  nas  soluções   arrendando uma casa pelo preço de 25 mil reis
           de menor dimensão, pelo contrário, a sua   anuais e mandando fazer aí os fornos para o
           iniciativa foi uma presença, ou uma marcada   fabrico dos materiais.
           omnipresença, como neste último caso.      A tudo isto respondeu Pombal, no dia 15 de
                                                      julho de 1773, felicitando o prelado pela sua
                                                      ideia. E de tal forma se mostrou empolgado
             3.7.  A Fábrica de Telha de vidro, demais   com a nova fábrica, que refere que até os
             matérias e a mão-de-obra                 edifícios da capital iriam beneficiar com ela .
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           Mas o trabalho do Reitor não foi apenas a nível   E embora não fosse possível encontrar mais
           dos  edifícios,  isto  porque  não  nos  podemos   nenhuma referência, sabemos que a dita
           esquecer que esta fase representa apenas um   fábrica  se  manteve  em  atividade  até  1777  e,
           estádio dos muitos necessários para que as   segundo Matilde Franco, a julgar pela despesa,
           construções se fizessem. E uma dessas etapas   teve uma atividade bastante intensa .
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           consiste mesmo na necessidade de garantir a   Como não foram apenas necessárias telhas e
           obtenção dos materiais a um preço acessível e   cerâmicas mas muitos outros materiais como
           com uma assiduidade eficaz para o sucesso da   madeiras, pedra, cal e ferragens, foi essencial
           empreitada. Neste domínio, o prelado esteve   procurar  que  estes  também  se  garantissem.
           incansável, segundo Teófilo Braga . E não nos   Quanto às primeiras, em 1773, o Reitor ordena
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           podemos olvidar que a necessidade de mão-  que os cortes das madeiras se vão fazendo
           de-obra também tem um peso decisivo.       no pinhal da Universidade, para assim não se
           Para resolver o primeiro dos problemas o   perder mais tempo, e que se proceda também
           Reitor criou uma fábrica de telha de vidro, o   ao transporte das mesmas . Mas, como
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           que  na  prática  pode  também  ser  entendido
           como uma importante inovação técnica. Nesta   147  Matilde Pessoa de Figueiredo Sousa Franco, «Riscos
           não se produziram apenas, como o próprio   das obras da Universidade de Coimbra» o valioso álbum
                                                      da Reforma Pombalina,  Coimbra, Museu Nacional de
           nome indica, telhas mas também azulejos e   Machado de Castro, 1983, p. 6.
                                                      148  Matilde Pessoa de Figueiredo Sousa Franco, «Riscos
                                                      das obras da Universidade de Coimbra» …, p. 6.
                                                      149  Teófilo Braga, Historia da Universidade de Coimbra
           145  Para além do referido mandou também construir   …, p. 496.
           umas escadas no interior para facilitar o acesso,   150  Teófilo Braga, Historia da Universidade de Coimbra
           melhorou a Reitoria, formou novas aulas e mandou   …, p. 496.
           preparar tudo o necessário para as salas de aula. Ver D.   151  Manuel Lopes d´ Almeida, Documentos da Reforma
           Francisco de Lemos, Relação Geral..., p. 137 e Genoveva   …, p. 95.
           Marques Proença, D. Francisco de Lemos…, p. 70.  152  Matilde Pessoa de Figueiredo Sousa Franco, «Riscos
           146  Teófilo Braga, Historia da Universidade de Coimbra   das obras da Universidade de Coimbra» …, p. 6.
           …, p. 541.                                 153  Teófilo Braga, Historia da Universidade de Coimbra


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