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Nuno Vila‐Santa                                               FRAGMENTA HISTORICA


           Casa de Viseu, quando foram adquiridas pelo   Apesar  de  D.  Martinho  e  D.  Vasco  de  Ataíde
           infante D. Fernando em 1466-67 . Em causa   terem marcado presença na assinatura do
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           terá estado um renovado interesse, devido   contrato nupcial de D. Afonso V com D. Joana,
           a  dificuldades  financeiras,  pelos  proventos   “A Beltraneja” (v. 1462-1530) , que espoletou
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           económicos que a Expansão poderia induzir, e   a referida guerra de sucessão a Henrique
           que a Casa já evidenciara em 1447.         IV  de  Castela,  e  de  D.  Martinho  ter  estado
                                                      presente, depois da abdicação de D. Afonso
                                                      V, no juramento do príncipe D. Afonso como
           4. Tensões familiares e declínio da Casa: o   herdeiro do Reino, em 1476 , ou até de D.
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           legado de D. Martinho (1470-1498)          Vasco  ter  participado  na  batalha  de  Toro  ao
           Nos anos seguintes, até ao falecimento do   lado monarca  e por este ter sido encarregue
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           infante  D.  Fernando,  em  1470,  D.  Martinho   de preparar a armada com que se deslocaria
           terá permanecido na corte, embora tudo     a França , tudo indicia que ao declínio
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           aponte para um crescente distanciamento em   financeiro da Casa, tenha vindo a associar-se
           relação a D. Afonso V visto que, na sequência   um certo declínio da sua influência política.
           da embaixada de 1455, apenas é anotada a   Este  terá  sido  assaz  acentuado  a  partir  do
           presença do 2º conde de Atouguia ao lado do   falecimento do infante D. Fernando, em 1470,
           monarca por ocasião da fracassada jornada de   e  nem  a  influência  atestada  de  D.  Vasco  de
           Tânger e do subsequente encontro do Africano   Ataíde junto de D. Afonso V e de D. João II ,
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           com o monarca castelhano em Gibraltar, durante   parece ter sido capaz de o inverter. Não sendo
           o ano de 1463 . As dificuldades financeiras da   conhecida nova nomeação para D. Martinho na
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           Casa já evidentes a propósito dos casamentos   sequência daquele falecimento e, sobretudo,
           das  irmãs  de  D.  Martinho  tinham  esboçado   tendo em conta a trajectória ascensional
           já uma tendência para um crescente declínio   de seu irmão D. Álvaro de Ataíde, pai de D.
           financeiro da Casa. Este tornou-se mais visível   António  de  Ataíde  (v.  1500-1563),  1º  conde
           em 1470 quando o assentamento da Casa de   da Castanheira, tudo indica que o processo
           Atouguia, de 102 mil reais anuais, passou a ser   de espartilho interno da Casa de Atouguia se
           inferior ao das Casas de Marialva (Coutinhos),   tenha acentuado extraordinariamente durante
           Monsanto (Castros) e Atalaia (Melos) , todas   esta década.
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           linhagens directamente ligadas aos Ataídes da
           Atouguia. Esta situação tornou-se ainda mais   Tal  é  confirmado  pelo  protagonismo  de  D.
           visível com a nova vaga de titulações afonsinas   Álvaro de Ataíde junto de D. Afonso V na década
           da década de 1470, ocasionada pela guerra   de 1470, o qual decorreu exactamente quando
           luso-castelhana de 1475-1479, visto as mercês   a  influência  do  titular  da  Casa  começava
           recebidas por D. Martinho nesta fase serem de   28, fl. 65v., s.l., 23.VII.1468) e da Quinta do Judeu (Cf.
           pouco relevo quando comparadas com as que   Idem,  livro  31,  fl.  26,  s.l.,  26.VI.1469).  Para  a  década
           recebera até então .                       de 1470 apenas se conhece o privilégio para confirmar
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                                                      juízes na Atouguia (Cf. ANTT, Místicos, livro 3, fl. 258,
           vendidas em 1463.                          s.l., 22.XII.1473) e um alvará para poder recrutar mão-
           220  Cf. João Paulo Oliveira e Costa, D. Manuel I…, p. 35.  de-obra para a construção do castelo de Vinhais (Cf.
           221  Cf. Rui de Pina,  Op.  Cit., vol. III, cap. CLIV.  Há   ANTT, Chancelaria de D. João II [CDJII], livro 18, fl. 33,
           possibilidade de ter estado em África em 1459 (Cf. Abel   s.l., 27.II.1479).
           dos Santos Cruz, Op. Cit., p. 217).        224  Cf. Saul António Gomes, Op. Cit., p. 200.
           222  Cf. Saul António Gomes, Op. Cit., p. 133.  225  Cf. Humberto Baquero Moreno,  A Batalha de
           223  As principais mercês de D. Martinho datam da década   Alfarrobeira…, vol. II, p. 728.
           de  1460  e  foram  as seguintes:  a doação  do  serviço   226  Cf. Ditos…, p. 197.
           velho e novos dos judeus de Castelo Branco (Cf. ANTT,   227  Cf. Paula Maria de Carvalho Pinto Costa, Op. Cit., p.
           CDAV, livro 8, fl. 137, s.l., 8.VI.1464), o direito do seu   218.
           primogénito, D. João de Ataíde, herdar a Atouguia e seu   228  Como anota Paula Maria de Carvalho Pinto Costa,
           termo (Cf. ANTT, Místicos, livro 3, fl. 187), autorização   a  capacidade  de  D.  Vasco  de  Ataíde  inflectir  decisões
           régia para construir um castelo em Vinhais (Cf. ANTT,   desfavoráveis ao futuro da Ordem acentuou-se com a
           CDAV, livro 28, fl. 47v.), e as confirmações das doações   realeza de D. João II, nem para isso valendo o facto de D.
           de Cernache, casal de Chança e Carvalhal (Cf. Idem, livro   Vasco ser padrinho do rei (Cf. Ibidem, p. 223).


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