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Nuno Vila‐Santa FRAGMENTA HISTORICA
contactos anteriores de D. Martinho de Ataíde reconhecida por D. João II já depois da sua fuga,
com a Casa de Bragança , e mesmo de, em anos mais tarde, quando em conversa com
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1483, ter enviado uma carta ao duque de amigos à mesa, terá afirmado que D. Álvaro era
Bragança , queixando-se da morosidade do “muy principal sempre nos taes dias leuaua os
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processo de casamento do seu herdeiro, não Reys pollas redeas, e era tão sabedor, cortesão,
foi encontrada qualquer prova incriminatória gracioso, que elle por si fazia festa” .
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de D. Martinho nas conjuras de 1483-84 . Já D. Martinho tinha em mãos um outro
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Na verdade, a política de controlo da nobreza problema mais grave: o desentendimento com
seguida por D. João II, desde o início do seu o herdeiro D. João de Ataíde. Moço-fidalgo de
reinado, ameaçava mais as pretensões de D. Afonso V com 2600 reis de moradia desde
D. Álvaro ao título condal do que as do já 1469 , D. João de Ataíde, provavelmente
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conde D. Martinho, como aliás ressalta das fruto da influência do reformismo religioso
confirmações joaninas a este último . Para da avó D. Guiomar de Castro, e possivelmente
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confirmar socialmente a sua emancipação da por ter assistido ao momento do ingresso da
Casa de Atouguia, D. Álvaro necessitava de infanta D. Joana (v. 1452-1490) no mosteiro
recuperar o título de conde da Atalaia, o que de Aveiro, em 1469 , quis abandonar a vida
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o tornou próximo do duque D. Diogo, a quem secular e seguir vida religiosa, tomando voto
procurou, conjuntamente com o seu herdeiro de noviço aos 16 anos . Mercê da situação
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D. Pedro, convencer à conjura contra D. João II familiar descrita e devido ao facto de D. João
que mais dificilmente lhe daria aquele título . ser o único filho varão de D. Martinho, este e
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Segundo uma das versões, os preparativos de a sua esposa, vendo ameaçada a sucessão da
D. Álvaro chegaram ao ponto de ter preparada sua Casa, forçaram-no a abandonar a condição
D. Joana, “A Beltraneja” e de manter os Reis clerical. Começaram por casá-lo, em nova
Católicos informados, na eventualidade do aliança cortesã, em 1481, com D. Violante de
que sucedesse com a conjura . A influência Castelo Branco, filha de D. Gonçalo de Castelo
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de D. Álvaro naqueles anos veio aliás a ser Branco, primeiro governador da Casa do Cível
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e irmã de D. Martinho de Castelo Branco, futuro
244 Apesar de ter sido interceptada uma carta do duque 1º conde de Vila Nova de Portimão. Já perante
de Bragança a D. Martinho relativa às terçarias de o precoce falecimento de D. Violante, D. João
Moura. Cf. Mafalda Soares da Cunha, Linhagem…., p.
168. de Ataíde casou com D. Brites da Silva, filha
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245 A referida carta ao duque de Bragança encontra-se do 1º conde de Penela e camareira-mor da
em BA, cod. 50-V-22, fl. 417v. infanta D. Joana , de quem teve finalmente a
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246 Não foi encontrado qualquer documento (Cf. BNP, 257
cod. 7638 ou em BPE, cod. CIII/2-20) nem existe sucessão desejada : D. Afonso de Ataíde, D.
referência a tal (Cf. Humberto Baquero Moreno, “A
conspiração contra D. João II: o julgamento do duque 250 Cf. Garcia de Resende, Op. Cit., cap. LVI, pp. 87-88.
de Bragança” in Arquivos do Centro Cultural Português, 251 Trata-se da primeira referência conhecida enquanto
vol. II, FCG, 1970, pp. 47-103). filho do 2º conde de Atouguia. Cf. Provas, tomo II, parte
247 O título de conde e a doação da Atouguia foram I, p. 51.
confirmadas ainda antes das conjuras (Cf. ANTT, CDJII, 252 Por este ter sido presenciado por todos os titulares
livro 7, fl. 74, s.l., 31.V.1482), sendo as restantes que da corte. Cf. João Gonçalves Gaspar, A Princesa Santa
se conhecem posteriores como é o caso do privilégio Joana e a sua Época (1452-1490), Aveiro, Câmara
ao concelho de Monforte de Rio Livre (Cf. ANTT, CDMI, Municipal de Aveiro, 1981, p. 94.
livro 27, fl. 25), da doação de Monforte de Rio Livre e 253 Cf. Fernando da Soledade, História Seráfica
Vinhais e das terras de Vilar Seco de Lomba e Vale de Cronológica da Ordem de São Francisco, Parte IV, livro
Paçó (Cf. ANTT, Além-Douro, livro 1, fl. 1, s.l., 9.V.1487), I, cap. XVII, Lisboa, Officina António Pedrozo Gabram,
da doação do Campo do Lobão (Cf. ANTT, CDMI, livro 1736.
30, fl. 33, s.l., 9.V.1487) e do alvará para seu filho herdar 254 Cf. Cristóvão Alão Moraes, Op. Cit., vol. IV, p. 281;
a vila de Atouguia (Cf. ANTT, Místicos, livro 3, fl. 187, Felgueiras Gayo, Nobiliário de famílias de Portugal, vol.
s.l., 25.VI.1487). I, Braga, edição de Carvalhos de Basto, 1992, p. 504.
248 Cf. Garcia de Resende, Op. Cit., cap. LII. 255 Cf. Nobreza de Portugal…, vol. II, p. 331.
249 Cf. Rui de Pina, Crónica de D. João II, comentário de 256 Cf. Saul António Gomes, Op. Cit., p. 242.
Luís de Albuquerque, Lisboa, Publicações Alfa, 1989, cap. 257 Cf. Genealogia 3: Descendência de D. Álvaro de
XVIII. Ataíde e D. Martinho de Ataíde, 1º e 2º condes de
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