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Nuno Vila‐Santa FRAGMENTA HISTORICA
para acompanhar D. Martinho na tentativa, conjugado com o facto de ao Prior D. Vasco
bem-sucedida, de convencer o infante D. de Ataíde ter sido dada a honra de ser um dos
Fernando, seu irmão, a regressar. padrinhos do jovem príncipe e de levar o
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Foi, pois, no seguimento do sucesso dessa pálio conjuntamente com o infante D. Fernando
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importante missão e ainda no contexto das e o 2º conde de Vila Real , demonstra bem
relevantes mercês que o infante D. Fernando o estatuto adquirido pelos membros da Casa
recebeu de D. Afonso V, aquando do seu de Atouguia. Não apenas como uma das
regresso , que D. Martinho, na qualidade principais Casas da nobreza da época, quase
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de figura destacada da corte do infante , como que umbilicalmente ligada à Casa Real,
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veio também a receber importantes mercês. mas também revelando a profunda ligação
Perante o precoce falecimento de D. João de às duas maiores Casas da aristocracia do seu
Ataíde, como mencionado, nomeado Prior do tempo: as de Bragança e de Vila Real.
Crato pelo Africano, o rei apoiou a nomeação Com o falecimento de D. Catarina de Castro e
do seu irmão mais novo, D. Vasco de Ataíde, não tendo D. Martinho à data herdeiros, o rei
para o cargo. Este veio efectivamente a ser apoiou novo enlace do fidalgo, ainda em 1455.
Prior do Crato desde 1453 . A relevância desta A eleita foi D. Filipa de Azevedo, filha de Luís
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nomeação consistia no facto de confirmar, já Gonçalves Malafaia, rico-homem, conselheiro
depois do falecimento de Álvaro Gonçalves, e vedor da fazenda do rei . A aliança com esta
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as possibilidades de medrança abertas a D. linhagem justificava-se por dois motivos. Por
Martinho e à sua Casa pela continuidade do um lado, Luís Gonçalves Malafaia havia sido
serviço cortesão. conselheiro, regedor e governador da Casa
Nesta sequência se integra a isenção, do infante D. João desde 1418, o qual fora
concedida à Casa, dos moradores do concelho administrador da Ordem de Santiago, tendo o
de Monforte de Rio Livre irem à guerra, em próprio Luís Gonçalves pertencido à referida
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1453 , e ainda a importante nomeação, já Ordem . Tratava-se, assim, de efectivar uma
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referida, para D. Martinho acompanhar a aliança com alguém que detinha influência
infanta D. Joana a Castela com D. Guiomar , numa Ordem Militar alheia à Casa, o que
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naquela que foi uma das mais dispendiosas combinava bem com a estratégia expansionista
embaixadas do reinado afonsino . Ainda e de contactos multifacetados desenvolvida
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nesse ano, a presença de D. Martinho no pelo Prior D. Vasco de Ataíde à frente da Ordem
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juramento do príncipe D. João, imediatamente dos Hospitalários . Era ainda uma aliança
atrás dos Braganças, D. Afonso (v. 1402-1460), 207 Cf. Rui de Pina, Op. Cit., vol. II, cap. XXXV; Damião de
1º marquês de Valença, primogénito do 1º Góis, Crónica do Príncipe D. João, edição e comentada
duque de Bragança, e seu irmão D. Fernando, de Graça Almeida Rodrigues, Lisboa, UNL, 1977, cap. ii.
Cf. Damião de Góis, Op. Cit., cap. ii; Garcia de
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4º conde de Ourém e de D. Fernando de Resende, Crónica de D. João II e Miscelânea, edição
Noronha, 2º conde de Vila Real , quando fac-similada com prefácio de Joaquim Veríssimo Serrão,
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Lisboa, INCM, 1973, cap. II.
Dávila, D. Fernando I, 2º duque de Bragança: vida e 209 Cf. Anselmo Braamcamp Freire, Op. Cit., vol. III, p.
acção política, dissertação de mestrado apresentada 277. O contrato de casamento data de 18 de Abril de
à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da 1457, tendo sido aprovado pela Coroa a 27 de Julho de
Universidade Nova de Lisboa, 2009. 1469. Cf. CDAV, livro 31, fl. 91v., s.l., 18.IV.1457.
200 Recebeu o senhorio de Beja, Serpa e Moura que o 210 Cf. Maria Dulcina Vieira Coelho de Medeiros, O
convertiam no maior senhor do Alentejo. Cf. Sebastiana Infante D. João (1400-1442). Subsídios para uma
Pereira Lopes, Op. Cit., p. 37. biografia, dissertação de mestrado apresentada à
201 Cf. Ibidem, p. 208. Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1999,
202 Cf. ANTT, CDAV, livro 3, fl. 27v., s.l., 14.III.1453. p. 135.
203 Cf. ANTT, Chancelaria de D. Manuel I [CDMI], livro 27, 211 Cf. Paula Maria de Carvalho Pinto Costa, A Ordem
fl. 25, s.l., 7.IV.1453. Militar do Hospital em Portugal: dos finais da Idade
204 Cf. Rui de Pina, Op. Cit., vol. II, cap. CXXXV. Média à Modernidade, Fundação Eugénio de Almeida,
205 1355 dobras foi o custo total da embaixada. Cf. Saul Porto, 2000, pp. 210 e seguintes na qual é realçado o
António Gomes, Op. Cit., p. 114. facto de a ligação de D. Vasco e da sua família à corte
206 Cf. Ibidem, p. 101; MH, vol. XII, doc. 145. ter permitido alcançar importantes privilégios para a
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