Page 164 - Fortaleza Digital
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- Que porra você quer? - perguntou o adolescente, com uma voz grosseira. Seu
sotaque era nova-iorquino.
Com a mesma sensação vertiginosa de estar caindo em um poço sem fundo,
Becker olhou para os passageiros do ônibus que haviam se 182
voltado para encará-lo. Todos eram punks. Pelo menos a metade usava cabelos
pintados de vermelho,branco e azul.
- Siéntate! Senta aí! - gritou o motorista.
Becker estava demasiado zonzo para ouvir.
- Siéntate! - gritou novamente o motorista.
David olhou, distraído, para o rosto zangado que aparecia no espelho retrovisor.
Mas já tinha demorado demais.
Irritado, o motorista deu uma pisada forte no freio, fazendo com que Becker
perdesse o equilíbrio. Ele tentou segurar-se em um banco, mas não deu tempo.
Por um breve instante pairou no ar. Logo em seguida, contudo, aterrissou com
força no chão áspero. Na Avenida del Cid, uma figura emergiu das sombras.
Ajustou seus óculos de armação de metal e olhou para o ônibus que partia. David
Becker havia escapado, mas não por muito tempo. De todos os ônibus em
circulação em Sevilha, ele havia tomado justamente o infame 27. A linha 27
tinha um único destino.
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CAPÍTULO 46
Phil Chartrukian bateu o fone no gancho. A linha de Jabba estava ocupada. O
chefe de SegSis dizia que os serviços de chamada em espera eram uma jogada
suja que havia sido inventada pela AT&T para aumentar seus lucros, porque
permitiam que todas as chamadas fossem completadas. O mísero tempo gasto
com a mensagem "Estou em outra linha, ligarei mais tarde" gerava milhões para
as companhias telefônicas a cada ano. A recusa de Jabba em manter um serviço
de chamada em espera era sua maneira de protestar contra a imposição da NSA
de que andasse, o tempo todo, com um celular para atender às emergências.
Chartrukian virou-se e olhou para o salão deserto da Criptografia. O
zumbido dos geradores no subterrâneo parecia mais alto a cada minuto. Ele
sentia que o tempo estava se esgotando. Havia recebido ordens diretas para sair,