Page 222 - Fortaleza Digital
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perto. Sob a luz fluorescente do aeroporto, ele podia ver, borradas sob a mancha
avermelhada no braço dela, as linhas tênues de algumas palavras rabiscadas no
braço.
- Mas os seus olhos... - disse Becker, que começava a se sentir um idiota.
- Estão vermelhos!
- Eu estava chorando. Já disse, perdi meu vôo. 250
Becker tentou ler as palavras que estavam no braço dela.
- Ah... Acho que ainda dá para ler, não é? - ela franziu o rosto, envergonhada.
Becker chegou ainda mais perto. Quando conseguiu ler as palavras esmaecidas,
as últimas 12 horas passaram diante de seus olhos.
Era como se David estivesse de volta ao quarto do Alfonso XIII. O
alemão obeso estava batendo no próprio antebraço e falando em inglês precário:
Fock off.
- Você está bem? - perguntou a garota, olhando para Becker, que havia entrado
em uma espécie de transe.
Sem pestanejar, continuou olhando para o braço dela. Ele estava zonzo. As
palavras borradas traziam uma mensagem simples: Fuck off. Vá se foder.
A garota olhou para o próprio braço, constrangida.
- Pois é, foi um amigo que escreveu esse troço. É meio idiota, não?
Ele continuava sem fala. Fock off. Agora fazia sentido. O alemão não estava
tentando insultá-lo, pelo contrário, queria ajudá-lo. Becker levantou o rosto
devagar e examinou a garota. Sob a luz fluorescente do saguão, ele podia ver um
resto de tinta vermelha e azul nos cabelos louros.
- Você... ah... - Becker titubeava, observando as orelhas dela, que não eram
furadas. - Você por acaso usa brincos?
Ela o encarou meio espantada. Pegou um pequeno objeto que estava em seu
bolso e segurou-o. Becker olhou para a caveira que balançava entre os dedos
dela.