Page 278 - Fortaleza Digital
P. 278
qualquer saída daquele labirinto sufocante. Nada. A viela se estreitava.
- Socorro! - a voz de Becker era quase inaudível. 316
As paredes se comprimiam contra ele. Becker virou uma esquina. Procurou um
cruzamento, uma bifurcação, qualquer tipo de saída. A rua se estreitava. Portas
trancadas. Estreitando-se ainda mais. Portões fechados. Passos se aproximando.
Estava em uma passagem reta que se transformava em uma ladeira. Cada vez
mais íngreme. Becker sentiu que suas pernas fraquejavam. Estava perdendo
velocidade. Então chegou ao fim.
Como uma estrada inacabada, a ladeira terminou. Havia uma parede alta, um
banco de madeira e nada mais. Nenhuma saída. Becker olhou para o topo do
prédio ao seu lado, três andares acima, depois virou-se e começou a voltar pela
longa viela. Deu apenas alguns passos e parou abruptamente.
Uma figura surgiu na base da ladeira. O homem moveu-se na direção de Becker
com uma determinação calculada. Em uma das mãos a arma reluzia sob os
primeiros raios de sol.
Becker sentiu uma enorme lucidez apoderando-se dele enquanto recuava em
direção à parede. Sentiu nitidamente a dor do ferimento. Colocou os dedos sobre
a ferida e a examinou. Havia sangue em seus dedos e sobre o anel de ouro de
Ensei Tankado. Sentiu-se tonto. Olhou para o anel, perplexo. Tinha esquecido que
o estava usando. Não se lembrava por que viera a Sevilha. Voltou a observar a
figura que se aproximava. Depois olhou novamente para o anel. Tinha sido por
isso que Megan morrera? Seria por isso que ele morreria?
A sombra avançava pela ruela inclinada. Becker via paredes subindo a seu redor.
Sem saída. Conseguia ver alguns corredores fechados por portões, mas era tarde
demais para gritar por socorro. Encostou-se no muro e naquele momento podia
sentir cada minúscula pedrinha sob a sola de seus sapatos, cada mínima
rugosidade na parede atrás dele. Seus pensamentos voltaram no tempo para sua
infância, para seus pais... e para Susan.
Meu Deus... Susan.
Pela primeira vez desde que era criança, Becker rezou. Não para se livrar da
morte: não acreditava em milagres. Rezou para que a mulher que iria deixar
encontrasse forças, para que ela soubesse sem dúvida alguma que fora amada.
Fechou os olhos. As lembranças o invadiram como um turbilhão. Não eram
lembranças de reuniões no departamento 317