Page 283 - Fortaleza Digital
P. 283

mesma sorte. Becker ajoelhou-se sobre o assoalho frio da catedral e abaixou a
      cabeça, para se esconder. O homem sentado ao seu lado olhou para ele: aquele
      era um comportamento muito estranho na casa de Deus.
      - Enfermo - desculpou-se Becker. - Estou doente. Becker tinha que ficar
      agachado. Ele vislumbrara uma silhueta que lhe era familiar movendo-se em
      direção ao altar pelo corredor lateral. É ele!
      Está aqui!
      Apesar de estar no meio de uma enorme comunidade de fiéis, ele temia ser um
      alvo fácil - seu blazer cáqui era um farol naquele mar de preto. Tinha cogitado
      tirar o blazer, mas a camisa branca que usava por baixo não iria ajudar em nada.
      Em vez disso, abaixou-se ainda mais. O homem ao seu lado fez uma cara feia.
      - Turista - grunhiu. Depois disse em voz baixa: - Devo chamar um médico?
      Becker olhou para a face cheia de verrugas do velho.
      - No, gracias. Estoy bien.
      O homem lhe devolveu um olhar irritado.
      - Pues siéntate! Então sente-se! - Algumas pessoas em volta fizeram sinais para
      que se calassem, e o velho decidiu morder a língua e voltarse para o altar. Becker
      fechou os olhos e abaixou-se ainda mais, pensando em quanto tempo a missa iria
      durar. Protestante, sempre tivera a impressão de que os católicos tinham uma
      cerimônia muito demorada. Rezava para que fosse verdade, pois, assim que a
      missa terminasse, seria forçado a levantar-se e deixar que os outros saíssem.
      Vestido de cáqui, estaria morto.
      324
      Naquele momento ele não tinha outra alternativa. Simplesmente deixou-se ficar
      ajoelhado no chão de pedra fria da grande catedral. O
      homem ao seu lado acabou se esquecendo dele. A congregação estava agora de
      pé, cantando um hino de louvor. Becker continuava abaixado. Suas pernas
      começaram a ficar dormentes. Não havia espaço para esticá-las. Paciência,
      pensou. Paciência. Fechou os olhos e respirou profundamente.
      Ficou abaixado, tentando pensar numa saída. Concentrado, não percebeu o tempo
      passar e espantou-se quando sentiu que alguém o cutucava com os pés. Olhou
      para cima. O velho estava à sua direita, esperando impacientemente para deixar
   278   279   280   281   282   283   284   285   286   287   288