Page 284 - Fortaleza Digital
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o banco. Becker entrou em pânico. Ele já quer ir embora? Vou ter que me
      levantar! Fez sinal para que o homem passasse por cima dele. O velho mal podia
      controlar sua irritação. Segurou as abas de seu casaco preto, puxou-as para baixo
      com veemência, depois curvou-se para trás, mostrando a Becker a fileira de
      pessoas que esperavam para sair. David olhou para seu lado esquerdo e viu que a
      mulher que estava sentada ali havia saído. Todo o banco à sua esquerda estava
      vazio até a aléia central.
      A missa não pode ter terminado! É impossível!
      Contudo, quando Becker viu o coroinha no fim da fila e as duas filas indianas se
      movendo em direção ao altar, entendeu o que estava acontecendo.
      Comunhão! - resmungou. Eu tinha me esquecido da comunhão!
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      CAPÍTULO 92
      Susan desceu a escada que dava no subsolo. Havia uma grossa camada de vapor
      quente em torno do TRANSLTR. O gradeado da escada e os corrimãos estavam
      úmidos devido à condensação. Olhou em volta, pensando quanto tempo mais o
      computador agüentaria. As sirenes continuavam emitindo seu aviso intermitente.
      A cada dois segundos, as luzes de emergência completavam uma volta. Três
      andares abaixo, os geradores auxiliares vibravam no limite de sua potência. Em
      algum lugar, no fundo daquela névoa obscurecida, estava o disjuntor que Susan
      procurava. Sabia que seu tempo estava se esgotando. Lá em cima, Strathmore
      segurava a Beretta. Leu seu bilhete novamente e deixou-o no chão da sala.
      Estava prestes a cometer um ato covarde e não tinha dúvidas disso. Sou um
      sobrevivente, pensou. Pensou no vírus no banco de dados da NSA, pensou em
      David Becker na Espanha, pensou em seus planos para o acesso de programador.
      Havia contado mentiras demais; era culpado de muitas coisas. Aquela era a
      única forma de evitar a culpa, de evitar a vergonha. Apontou a arma
      cuidadosamente. Depois fechou os olhos e puxou o gatilho. Susan havia descido
      apenas seis lances de escada quando ouviu o som do tiro. Vinha de longe e fora
      abafado pelo barulho dos geradores tão próximos. Nunca havia ouvido um tiro, a
      não ser na televisão, mas não tinha dúvida.
      Parou na hora, o som ressoando em seus ouvidos. Tomada de choque, temeu
      pelo pior. Em sua mente surgiram as imagens dos sonhos do comandante, o
      acesso oculto no Fortaleza Digital e as imensas possibilidades que isso abriria.
      Depois, as imagens do vírus no banco de dados, o casamento arruinado, seu olhar
      de desamparo há poucos minutos. Tropeçou e segurou-se no corrimão para não
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