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Quando completou 20 anos, Ensei Tankado já era uma figura cult no meio
      underground dos programadores. A IBM ofereceu-lhe um visto de trabalho e um
      emprego no Texas. Tankado aproveitou a oportunidade. Três anos depois havia
      deixado a IBM, estava vivendo em Nova York e programando por contra própria.
      Pegou a nova onda de encriptação com chave pública. Escreveu alguns
      algoritmos e fez fortuna. Como muitos dos melhores programadores de algo
      ritmos de encriptação, Tankado foi sondado pela NSA. Ele não deixou, é claro, de
      perceber a ironia: a oportunidade de trabalhar no coração do governo de um país
      que uma vez ele havia jurado odiar. Decidiu ir em frente e comparecer à
      entrevista. Qualquer dúvida que ainda possuísse se desfez quando conheceu o
      comandante Strathmore. Conversaram francamente sobre o passado de Tankado,
      a hostilidade em potencial que poderia sentir contra os Estados Unidos, seus
      planos para o futuro. Ele fez um teste com o polígrafo e se submeteu a cinco
      semanas de rigorosas entrevistas com psicólogos. Passou por tudo isso. Sua raiva
      havia sido substituída pela devoção a Buda. Quatro meses depois, Ensei Tankado
      foi trabalhar no Departamento de Criptografia da Agência de Segurança
      Nacional.
      Apesar de seu alto salário, Tankado ia trabalhar numa moto antiga e comia
      sanduíches sozinho em sua mesa, em vez de se juntar ao resto do pessoal para
      desfrutar de um bom almoço no refeitório da NSA. Os outros criptógrafos o
      admiravam. Ele era brilhante: um dos programadores mais criativos que todos já
      haviam conhecido. Era gentil, honesto, tranqüilo e tinha uma ética impecável. A
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      moral era da maior importância para ele. Por isso, sua dispensa da agência e
      subseqüente deportação foram um choque para todos. Tankado, assim como o
      restante da equipe de criptógrafos, estava trabalhando no projeto do TRANSLTR
      com a idéia de que, se tivessem sucesso, o computador seria usado para decifrar
      e-mails apenas em casos em que isso fosse previamente autorizado pelo
      Departamento de Justiça dos Estados Unidos. O uso que a NSA faria do
      TRANSLTR seria regulamentado, mais ou menos do mesmo modo como o FBI
      precisava da ordem de uma corte federal para instalar um grampo telefônico. O
      supercomputador deveria incluir uma programação que precisasse de senhas -
      que estariam sob controle do Banco Central americano e do Departamento de
      Justiça - para decifrar um arquivo. Isso impediria que a NSA bisbilhotasse
      indiscriminadamente as comunicações pessoais de cidadãos inofensivos ao redor
      do mundo.
      Contudo, quando chegou a hora de programar essa parte, a equipe do
      TRANSLTR foi avisada de que houvera uma mudança de planos. Por conta da
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