Page 564 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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estúpidas  que  não  se  arranca  delas  uma  só  palavra.  E  por  isso  que  as
                  corujas têm o bom senso de fazer suas reuniões nas horas noturnas.

                         – Já vi tudo – disse Eustáquio. – Está bem, vamos continuar. Conte-
                  nos tudo sobre o príncipe desaparecido.

                         Uma velha coruja, e não Plumalume, foi quem narrou a história.

                         Há  cerca  de  dez  anos,  ao  que  parece,  quando  Rilian,  filho  de
                  Caspian,  era  muito  jovem,  numa  manhã  de  primavera,  foi  com  a  mãe  a
                  cavalo para o norte de Nárnia. Levaram consigo numerosos escudeiros e
                  damas de companhia. Não levaram cães, pois não iam caçar, mas festejar a
                  primavera. À tarde chegaram a uma clareira onde jorrava a água pura de
                  uma  fonte;  aí  descansaram,  comeram,  beberam  e  riram.  Como  a  rainha
                  sentisse sono, estenderam-lhe mantos na relva; o príncipe Rilian e os outros
                  afastaram-se a fim de não despertá-la com suas risadas e conversas. Uma
                  grande serpente surgiu da densa floresta e picou a rainha na mão. Ao ouvir
                  o grito de dor, todos correram até ela. Rilian, espada em punho, partiu no
                  encalço do animal, que era grande, reluzente e verde como veneno. Mas a
                  serpente deslizou para dentro das moitas espessas e desapareceu. Ele voltou
                  para  perto  da  mãe,  encontrando  todos  aflitos  em  torno  dela.  Era  tarde
                  demais.
                         Rilian,  ao  vê-la,  compreendeu  que  nenhum  médico  do  mundo
                  poderia  fazer  qualquer  coisa.  Enquanto  lhe  restava  ainda  um  pequeno
                  hausto  de  vida,  a  rainha  tentou  dizer-lhe  algo.  Mas,  incapaz  de  articular
                  com clareza, morreu sem transmitir sua última mensagem. Tudo não durou
                  mais que dez minutos.

                         A  rainha  morta  foi  transportada  para  Cair  Pa-ravel  e  pranteada
                  dolorosamente pelo filho, pelo rei e por todo o reino de Nárnia. Fora uma
                  grande dama, cheia de sabedoria, de graça e alegria. O rei Caspian trouxera
                  a noiva do Extremo Oriente. Diziam que corria em suas veias o sangue da
                  estrelas.

                         O príncipe sofreu terrivelmente e, a partir de então, estava sempre a
                  percorrer  a  cavalo  as  fronteiras  do  Norte,  à  caça  da  venenosa  serpente.
                  Ninguém dava grande atenção a isso, apesar de o príncipe voltar extenuado
                  e  agitado  de  suas  peregrinações.  Um  mês  depois  da  morte  de  sua  mãe,
                  entretanto, alguns passaram a notar certa mudança nele. Trazia nos olhos
                  uma expressão de quem tivera visões; e, embora passasse todo o dia fora,
                  seu cavalo não demonstrava se ressentir das duras caminhadas.

                         Seu  maior  amigo,  entre  os  velhos  fidalgos,  era  Drinian,  que  fora
                  capitão do navio de seu pai na grande viagem para o Oriente.

                         Uma noite Drinian disse para o príncipe:
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