Page 567 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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BREJEIRO
Jill estava mesmo dormindo, depois de ter bocejado o tempo todo
durante a reunião. Não gostou nem um pouco de ser acordada e de se ver
num campanário empoeirado e escuro, cheio de corujas. Gostou ainda
menos quando ouviu que deviam partir para algum lugar que não parecia
ser a cama – nas costas da coruja.
– Ora, vamos, Jill – disse Eustáquio. – É mais uma aventura, afinal
de contas.
– Já estou cheia de aventuras – respondeu a menina, zangada.
Mas acabou subindo em Plumalume, e o vento frio da noite deixou-a
totalmente desperta (por algum tempo). A lua sumira e não havia estrelas.
Muito atrás, Jill conseguiu distinguir uma janela acesa, sem dúvida de uma
das torres de Cair Paravel. Isso lhe deu saudades daquele quarto
maravilhoso. Colocou as mãos sob a capa, aconchegando-se. Eustáquio, a
uma certa distância, conversava com a sua coruja. “Nem parece cansado”,
pensou Jill, sem saber que o clima de Nárnia devolvia ao menino a força
que adquirira quando navegara com o rei Caspian pelos mares orientais.
Jill tinha de dar beliscões em si mesma para manter-se acordada,
temendo escorregar e cair do dorso de Plumalume. Quando as corujas
chegaram ao fim da viagem, ela pulou para o chão firme. Soprava um vento
danado de frio. Não se via uma árvore.
– Turru! Turru! – chamava Plumalume. – Acorde, Brejeiro, rápido. É
da parte do Leão.
Por um longo tempo não houve resposta. Depois, ao longe, surgiu
uma luzinha, que começou a aproximar-se. E uma voz:
– Olá, corujas! O que há? Morreu o rei? Há inimigo em Nárnia?
Enchente? Ou dragões?
A luz vinha de uma lanterna, mas Jill podia distinguir muito pouco
da pessoa que a segurava. Parecia alguém feito só de pernas e braços. As
corujas conversavam com ele, mas Jill estava cansada demais para prestar
atenção. Tentou reanimar-se um pouquinho quando percebeu que se
despediam dela. Nem mesmo mais tarde conseguiu se lembrar do que
acontecera: sabia apenas que entrara com Eustáquio por uma portinha e