Page 565 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Vossa Alteza deve cessar de caçar a serpente. Não há vingança em
destruir um bruto irracional. É desperdício de energia.
O príncipe respondeu:
– Drinian, nesta última semana quase me esqueci por completo da
serpente.
Drinian quis saber qual era, então, o motivo que continuava a atrair o
príncipe às matas do Norte. E ele respondeu:
– Vi nas matas do Norte a criatura mais bela que jamais existiu.
– Meu bom príncipe – replicou Drinian –, permita que amanhã eu o
acompanhe, para que também possa ver a bela criatura.
– Com grande prazer – concordou Rilian.
No dia seguinte, selaram os cavalos e partiram a galope para as
matas, apeando na mesma clareira na qual a rainha encontrara a morte.
Drinian estranhou que, dentre todos os lugares, o príncipe escolhesse
aquele. Ali ficaram até o meio-dia, quando Drinian viu a mais bela criatura
que jamais existiu. Estava ao pé da fonte e nada disse, mas fez um sinal
para o príncipe, como se pedisse que se aproximasse. Era alta, viçosa,
coberta por uma veste verde como veneno. O príncipe olhava para ela
como se estivesse fora de si. Subitamente, no entanto, a dama desapareceu,
sem que Drinian soubesse como. Ambos voltaram para Cair Paravel.
Drinian estava convencido de que aquela mulher fulgurante era
maléfica. Pensou muito se devia ou não contar a aventura para o rei, pois
não queria bancar o intrigante. Mais tarde arrependeu-se muito de ter
silenciado o episódio, porque, no dia seguinte, o príncipe Rilian partiu
sozinho e não voltou. Nunca mais foi visto em Nárnia, nem nas terras
vizinhas. O cavalo e o manto também não foram encontrados. Penando na
sua amargura, Drinian procurou o rei e disse-lhe: “Senhor, mate-me logo
como grande traidor; pelo meu silêncio, causei a destruição de seu filho.” E
contou-lhe tudo. Com um machete de guerra, Caspian precipitou-se sobre
ele para matá-lo; Drinian esperou impassível o golpe mortal. Subitamente,
porém, o rei lançou fora o machete e bradou: “Já perdi minha rainha e meu
filho; devo também perder o meu amigo?” Caiu nos braços de Drinian e
ambos derramaram lágrimas de dor e verdadeira amizade.
E essa a história de Rilian. E quando a coruja terminou de contá-la,
Jill foi logo dizendo:
– Aposto que a serpente e a mulher eram a mesma pessoa.
– Turru, turru! – concordaram as corujas.
– Mas não acreditamos que haja assassinado o príncipe – disse
Plumalume –, pois não se encontraram ossos...