Page 659 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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chama Lago do Caldeirão. É no comecinho da primavera que ele fica mais
                  agitado, porque as águas da cachoeira crescem muito mais com a neve que
                  derrete nas montanhas do lado de lá de Nárnia, na floresta ocidental, onde
                  nasce o rio.

                         Eles estavam olhando para o Lago do Caldeirão quando, de repente,
                  Manhoso apontou com seu dedo escuro e fininho, dizendo:

                         – Olhe! O que é aquilo?

                         – Aquilo o quê? – perguntou Confuso.
                         – Aquela coisa amarela que vem descendo pela cachoeira. Olhe! Lá
                  está ela de novo, flutuando na água. Precisamos descobrir o que é aquilo!

                         – Precisamos...? – disse Confuso.

                         – E claro que sim – respondeu Manhoso. – Pode ser alguma coisa
                  útil. Vamos, seja camarada. Pule no lago e pegue aquilo lá, para a gente dar
                  uma olhada.

                         –  Saltar  no  lago?  –  resmungou  Confuso,  repuxando  as  orelhas
                  compridas.

                         – Bem... Como é que vamos pegá-lo se você não pular? – disse o
                  macaco.
                         – Mas... Mas... Não seria melhor que você entrasse no lago? Afinal
                  de contas, quem quer saber o que é aquilo é você, e não eu... E você tem
                  mãos, não é mesmo? Quando se trata de pegar alguma coisa, você é tão
                  bom quanto qualquer homem ou anão. Eu só tenho cascos...

                         – Puxa, Confuso! – exclamou Manhoso. – Nunca pensei ouvir uma
                  coisa dessas. Nunca esperei isso de você!

                         – Por quê? O que foi que eu disse de errado? – indagou o jumento,
                  numa  vozinha  muito  humilde,  pois  percebera  que  o  amigo  estava  muito
                  ofendido. – Eu só quis dizer...

                         – Querendo que eu entre na água... – queixou-se o macaco. – Como
                  se não soubesse perfeitamente quanto são fracos os pulmões dos macacos e
                  quão  facilmente  eles  se  resfriam.  Tudo  bem,  eu  vou.  Já  estou  mesmo
                  tremendo  de  frio  por  causa  deste  vento  terrível.  Mas  vou  assim  mesmo.
                  Pode até ser que eu morra. E aí você vai se arrepender! (E aqui a voz de
                  Manhoso soou como se ele estivesse prestes a chorar.)
                         –  Não,  por  favor,  não  vá!  Por  favor,  não!  –  disse  Confuso,  meio
                  zurrando, meio falando. – Eu não quis dizer isso, Manhoso, juro! Você bem
                  sabe  o  quanto  sou  idiota  e  que  não  consigo  pensar  em  duas  coisas  ao

                  mesmo tempo. Eu esqueci que você tem o peito fraco. É claro que eu vou.
                  Nem pense mais nisso. Prometa que não vai, Manhoso!
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