Page 662 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Nem é preciso dizer que Confuso acabou concordando. Assim que se
                  viu  sozinho,  Manhoso  saiu  gingando,  ora  sobre  duas  patas,  ora  sobre  as
                  quatro, até chegar à árvore onde morava.

                         Então  começou  a  pular  de  galho  em  galho,  tagarelando  e
                  arreganhando os dentes o tempo todo, e finalmente entrou na casinha. Lá
                  dentro  pegou  agulha,  linha  e  uma  enorme  tesoura  (inteligente  como  era,
                  havia aprendido a costurar com os anões). Enfiou o novelo de linha na boca
                  (era  uma  linha  muito  grossa,  que  mais  parecia  corda),  de  forma  que  as
                  bochechas ficaram estufadas como se ele estivesse chupando um caramelo
                  bem grandão. Com a agulha entre os beiços e segurando a tesoura com a
                  mão  esquerda,  desceu  da  árvore  e  saiu  bamboleando  até  a  pele  de  leão.
                  Então, acocorado, pôs-se a trabalhar.

                         Manhoso  logo  percebeu  que  o  corpo  da  pele  de  leão  era  grande
                  demais para Confuso e que o pescoço era muito curto. Portanto, cortou um
                  bom pedaço do corpo e emendou-o na parte do pescoço, fazendo uma gola
                  comprida  como  o  pescoço  do  jumento.  Depois  arrancou  a  cabeça,
                  costurando a gola entre esta e os ombros. Colocou umas tiras em ambos os
                  lados da pele de leão, a fim de amarrá-las por baixo do peito e do ventre de
                  Confuso.  De  vez  em  quando  um  passarinho  passava  voando  e  Manhoso
                  parava  de  trabalhar,  olhando  ansiosamente  para  cima;  não  queria  que
                  ninguém visse o que estava fazendo. Mas como nenhum dos passarinhos
                  que viu era uma ave falante, não havia com que se preocupar.

                         Quando  Confuso  voltou  já  era  bem  tarde.  Ele  não  vinha  trotando,
                  mas caminhando lentamente, como fazem os jumentos.
                         – Não achei laranja nenhuma e banana também não. Estou é morto
                  de cansado! – disse, atirando-se ao chão.

                         – Venha cá. Experimente a sua linda capa nova, de pele de leão –
                  chamou o macaco.

                         –  Essa  pele  velha  que  se  dane!  –  disse  Confuso.  –Amanhã  eu
                  experimento. Hoje estou cansado demais.

                         – Puxa, Confuso, como você é indelicado! – reclamou Manhoso. –
                  Se você está cansado, imagine eu! Fiquei o dia inteiro aqui dando duro para
                  lhe  fazer  uma  capa,  enquanto  você  trotava  tranqüilamente  pelo  vale.
                  Minhas mãos estão tão cansadas que mal consigo segurar a tesoura. E agora
                  você  nem  me  diz  obrigado...  E  nem  sequer  olha  para  a  capa...  Nem  dá
                  bola...

                         – Manhoso, meu querido – disse Confuso, erguendo-se de um salto.
                  – Sinto muito. Como fui estúpido! É claro que eu adoraria experimentar a
                  capa. Como é bonita! Vou prová-la agora mesmo. Coloque-a em mim, por
                  favor!
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