Page 667 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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está por abater-se sobre Nárnia. Mas na noite passada ouvi rumores de que
                  Aslam encontra-se em  Nárnia. Senhor, não acrediteis nessa história. Não
                  pode ser. As estrelas nunca mentem, mas os homens e os animais, sim. Se
                  Aslam estivesse realmente vindo para Nárnia, os céus o teriam predito. Se
                  ele  estivesse  mesmo  por  vir,  todas  as  estrelas  mais  formosas  estariam
                  reunidas em sua homenagem. É tudo mentira!

                         –  Mentira!  —  explodiu  o  rei.  —  Que  criatura,  em  Nárnia  ou  no
                  mundo inteiro, ousaria inventar uma mentira dessas? – E, sem nem pensar
                  no que estava fazendo, levou a mão à bainha da espada.

                         – Isso eu não sei, meu senhor – disse o centauro. – Só sei que na
                  terra existem mentirosos; nenhum, porém, entre as estrelas.

                         – Eu me pergunto – interveio Precioso – se Aslam não poderia vir de
                  qualquer  forma,  mesmo  sem  ter  sido  previsto  pelas  estrelas.  Ele  não  é
                  escravo das estrelas, mas, sim, o criador delas. Não é o que se diz em todas
                  as narrativas antigas, que ele não é um leão domesticado?
                         –  Isso  mesmo,  Precioso,  isso  mesmo!  –  exclamou  o  rei.  –  São
                  exatamente estas as palavras: ele não é um leão domesticado. Isso aparece
                  em inúmeras histórias.

                         Passofirme ergueu a mão e ia fazendo uma reverência para dizer ao
                  rei algo muito grave, quando de repente os três se voltaram, pois acabavam
                  de ouvir um som de lamentação que se aproximava cada vez mais rápido.
                  Do lado direito de onde eles estavam, a mata era tão espessa que ainda não
                  dava  para  enxergar  quem  vinha  vindo.  Logo,  porém,  distinguiram  as
                  palavras.

                         – Ai, ai, ai! – gemia a voz. – Ai de meus irmãos e minhas irmãs! Ai
                  das  árvores  sagradas!  As  matas  estão  arrasadas.  O  machado  voltou-se
                  contra  nós.  Estamos  sendo  derrubadas.  Árvores  enormes  estão  caindo,
                  caindo, caindo...

                         E,  junto  com  o  último  “caindo”,  apareceu  o  dono  da  voz.  Parecia
                  uma mulher, mas era tão alta que sua cabeça ficava no mesmo nível da do
                  centauro.  E  ela  própria  parecia  uma  árvore.  Para  quem  nunca  viu  uma
                  dríade é difícil explicar. Mas quem já viu uma não se engana, pois há algo
                  diferente nela, na cor, na voz, no cabelo... O rei Tirian logo percebeu que se
                  tratava da ninfa de uma faia.

                         – Misericórdia, senhor rei! – chorava ela. – Venha em nosso auxílio!
                  Proteja nosso povo! Estão nos derrubando no Ermo do Lampião. Quarenta
                  árvores grandes dentre as minhas irmãs já estão por terra.
                         –  O  quê?  !  Derrubando  o  bosque  do  Lampião?  Assassinando  as
                  árvores falantes? ! – exclamou o rei, dando um salto e sacando a espada. –
                  Como ousam? Quem se atreve a fazer isso? Pela Juba do Leão, vou...
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