Page 669 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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lado. O rei ainda estava com tanta raiva que mal se deu conta do frio da
                  água.  Mesmo  assim,  logo  que  chegaram  à  outra  margem,  ele  enxugou
                  cuidadosamente a espada na manga da capa, que era a única parte seca em
                  todo o seu corpo.

                         Agora avançavam para o Oeste, tendo à direita o rio e, bem à sua
                  frente, o Ermo do Lampião. Ainda não haviam caminhado um quilômetro
                  quando ambos pararam, falando ao mesmo tempo:

                         – O que é isso? – perguntou o rei, enquanto Precioso exclamava:

                         – Olhe!
                         – É uma balsa – disse Tirian.

                         E era mesmo. Uma meia dúzia de troncos de árvores, todos recém-
                  cortados e cujos galhos acabavam de ser podados, tinham sido amarrados
                  um  ao  outro  formando  uma  balsa  e  vinham  deslizando  velozmente  rio
                  abaixo. Na frente ia um rato-d’água, dirigindo-a com um varapau.

                         – Ei, rato-d’água! O que está fazendo? – gritou o rei.

                         –  Levando  estes  troncos  rio  abaixo  para  vender  aos  calormanos,
                  senhor – respondeu o rato, fazendo uma continência e tocando na orelha
                  como quem toca no chapéu.

                         – Calormanos? ! — vociferou Tirian. – O que você quer dizer com
                  isso? Quem deu ordem para derrubar essas árvores?
                         O rio corre tão rapidamente nessa época do ano que a balsa já tinha
                  passado pelo rei e por Precioso. Mas o rato-d’água olhou para trás e gritou
                  por cima dos ombros:

                         – Ordens do Leão, senhor. Do próprio Aslam! –Ele ainda disse mais
                  alguma coisa, mas eles não conseguiram entender.

                         O  rei  e  o  unicórnio se  entreolharam.  Nunca,  em  nenhuma  batalha,
                  pareceram tão assustados quanto agora.

                         –  Aslam  –  disse  finalmente  o  rei,  numa  voz  quase  inaudível.  –
                  Aslam. Será verdade? Será possível que Ele esteja derrubando as árvores
                  sagradas e matando as dríades?
                         –  A  não  ser  que  todas  as  dríades  tenham  feito  algo  terrivelmente
                  errado... – murmurou Precioso.

                         –  Mas  vendê-las  para  os  calormanos?  !  –  pasmou  o  rei.  –  Será
                  possível?

                         –  Não  sei...  –  disse  Precioso,  desolado.  –  Ele  não  é  um  leão
                  domesticado...
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