Page 673 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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–  Ele  não  é  um  leão  domesticado  –  retrucou  Tirian.  –  Como
                  poderíamos saber o que ele pretende? Logo nós, uns assassinos. Precioso,
                  vou  voltar.  Vou  entregar  minha  espada,  render-me  àqueles  calormanos  e
                  pedir-lhes que me levem à presença de Aslam. Que Ele  mesmo  me faça
                  justiça.

                         – Mas assim estará caminhando para a morte!

                         – E você acha que eu me importo se Aslam me condenar à morte?
                  Isso ainda seria pouco, muito pouco. Melhor morrer do que viver com esse
                  terrível temor de que Aslam voltou e não é nada parecido com o Aslam em
                  quem  sempre  acreditamos  e  por  quem  tanto  esperamos.  É  como  se  de
                  repente a gente acordasse e visse o sol nascer escuro...

                         – Eu sei – disse Precioso. – Ou como se a gente bebesse um copo
                  d’água e esta fosse seca. Tem razão, senhor. É o fim de tudo. Vamos voltar
                  e entregar-nos.
                         – Não é preciso irmos os dois, Precioso.

                         –  Pelo  amor  que  sempre  nos  uniu,  Tirian,  deixe-me  ir  com  você
                  agora – implorou o unicórnio. – Se você morrer, e se Aslam não for mesmo
                  Aslam, de que me adianta continuar vivendo?

                         Os  dois  retomaram  o  caminho  de  volta,  chorando  amargamente.
                  Quando chegaram ao lugar onde os homens estavam trabalhando, ouviu-se
                  uma gritaria e os calormanos avançaram para cima deles de armas na mão.
                  O rei, porém, ergueu sua espada com o punho voltado contra eles, dizendo:

                         – Eu, que era o rei de Nárnia e sou agora um cavaleiro desonrado,
                  rendo-me à justiça de Aslam. Levem-me à presença dele.

                         – Eu também me rendo – disse Precioso.
                         Viram-se,  então,  cercados  por  uma  enorme  multidão  de  homens
                  escuros,  cheirando  a  alho  e  cebola,  os  olhos  brancos  faiscando
                  terrivelmente  nos  rostos  morenos.  Passaram  uma  corda  em  volta  do
                  pescoço de Precioso. Tomaram a espada do rei e amarraram-lhe as mãos às
                  costas. Um dos calormanos, que usava um elmo em lugar de turbante e que
                  parecia estar no comando, arrancou o diadema de ouro da cabeça de Tirian,
                  fazendo-o  desaparecer  sutilmente  por  entre  suas  roupas.  Depois  os
                  prisioneiros foram conduzidos colina acima, até chegarem a uma clareira. E
                  eis o que os dois viram.

                         No centro da clareira, que era também o ponto mais alto da colina,
                  havia uma pequena cabana coberta de palha. A porta estava fechada. Na
                  frente  desta,  sentado  na  grama,  encontrava-se  um  macaco.  Tirian  e
                  Precioso, que esperavam ver Aslam e nunca tinham ouvido coisa alguma a
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