Page 676 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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nos apressar e acabar de carregar essa madeira o mais rápido possível, e
assim ficaremos livres de novo.” Pois bem, é melhor tirarem essa idéia da
cabeça de uma vez. E não só os cavalos. Daqui para a frente, todo mundo
que tem condições de trabalhar vai ter o que fazer. Aslam já acertou tudo
com o rei da Calormânia, o Tisroc, como é chamado pelos nossos amigos
calormanos. Todos vocês – cavalos, touros e burros – serão enviados à
Calormânia para trabalhar pelo resto da vida... puxando carroças e
transportando coisas, igual aos outros animais de carga do mundo inteiro. E
quanto a vocês, toupeiras, coelhos e os outros bichos que cavam buracos,
irão todos juntos com os anões para trabalhar nas minas do Tisroc. E
também...
– Não! Não! Pare! – interromperam os animais. – Não pode ser
verdade! Aslam nunca nos venderia como escravos para o rei da
Calormânia!
– Esperem aí! – rosnou asperamente o macaco. – Para que essa
barulheira toda? Quem falou em escravidão? Vocês não vão ser escravos
coisa nenhuma. Serão pagos, aliás, muito bem pagos. Quer dizer, o salário
de vocês irá para o tesouro de Aslam e ele utilizará tudo para o bem de
todos.
Então olhou de soslaio e deu uma piscadela para o chefe calormano,
que fez uma reverência e replicou, à pomposa maneira dos calormanos:
– Ó, sapientíssimo porta-voz de Aslam! O Tisroc (que ele viva para
sempre!) está perfeitamente de acordo com Sua Excelência no que diz
respeito a esse sábio plano.
– Viram só? – disse o macaco. – Está tudo acertado. E é tudo para o
bem de vocês. Com todo esse dinheiro que irão ganhar poderemos fazer de
Nárnia um país digno de se viver. Haverá laranjas e bananas à vontade...
Haverá estradas, cidades grandes, escolas, escritórios, como também
autoridades e armas, e selas, e cadeias, canis, prisões... Tudo, tudo!
– Mas não queremos nada disso! – bradou um velho urso. –
Queremos ser livres. E queremos que o próprio Aslam fale com a gente.
– Não comecem a discutir agora, pois não vou tolerar isso –
esbravejou o macaco. – Sou um homem e você não passa de um urso velho,
gordo e bobo. E o que é que você entende de liberdade? Pensa que
liberdade significa fazer o que a gente bem entende? Pois está muito
enganado. Isso não é a verdadeira liberdade. Liberdade de verdade significa
fazer aquilo que eu lhes digo.
– Rrrrrr! — grunhiu o urso, cocando a cabeça. Para ele essas coisas
eram muito difíceis de entender.