Page 677 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Por favor! Por favor! – exclamou uma ovelhinha felpuda, tão
novinha que todos se admiraram de que ela tivesse coragem de dizer
alguma coisa.
– E agora, o que se passa? – estranhou o macaco. – Seja rápida!
– Por favor – disse a ovelha. – Eu não compreendo. O que temos nós
a ver com os calormanos? Nós pertencemos a Aslam; eles pertencem a
Tash. Têm um deus chamado Tash. Dizem que ele tem quatro braços e
cabeça de abutre, e que humanos são mortos em seu altar. Não acredito que
esse tal de Tash exista, mas, se existe, como é que Aslam pode ser amigo
dele?
Todos os animais se voltaram e todos os pares de olhos chamejaram
na direção do macaco. Todos sabiam que aquela era a melhor pergunta que
alguém ali já fizera.
O macaco deu um salto e cuspiu na ovelha.
– Sua fedelha! Bebezinho chorão! Por que não vai para casa mamar?
! O que é que você entende dessas coisas? Agora, vocês todos, escutem
aqui. Tash é apenas um outro nome de Aslam. Toda aquela velha história
de que nós estamos certos e os calormanos errados é pura bobagem. Agora
já sabemos melhor das coisas. Embora os calormanos falem uma outra
linguagem, querem dizer a mesma coisa. Tash e Aslam, são apenas dois
nomes diferentes, vocês bem sabem de quem... Por isso é que nunca pode
haver qualquer discórdia entre eles. Metam isso na cabeça de uma vez por
todas, seus brutos idiotas: Tash é Aslam, e Aslam é Tash.
Quem tem um cachorrinho sabe muito bem como ele pode ficar com
a carinha triste de vez em quando.
Agora pensem nisso e depois imaginem como ficou a cara de cada
um dos animais falantes, naquela hora. Imaginem todos aqueles pássaros,
ursos, texugos, coelhos, toupeiras e ratos, tão leais e humildes, agora
desconcertados e mais tristes do que nunca. Todos os rabinhos estavam
caídos e todas as orelhas, murchas. Só de olhar cortava o coração. De todos
eles, apenas um parecia não estar triste. Era um gato ruivo – um bichano
enorme, no vigor dos anos – que se postara todo empinado, com a cauda
enrolada em volta dos pés, entre os animais que estavam na fileira da
frente. Ficara o tempo todo ali, encarando firmemente o macaco e o chefe
calormano, sem piscar uma única vez.
– Queira me desculpar – disse o gato com polidez –, mas isto
realmente me interessa. Será que o seu amigo calormano também pensa a
mesma coisa?