Page 682 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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dizendo alguma coisa para a multidão, mas Tirian não conseguia ouvir.
Depois o macaco foi até a porta da cabana e inclinou-se três vezes até o
chão; em seguida levantou-se e abriu a porta. Então alguma coisa saiu lá de
dentro – algo que se movia rigidamente sobre quatro pernas – e postou-se
de frente para a multidão.
Ergueu-se no ar um grande murmúrio (ou seriam bramidos?), tão alto
que Tirian pôde até ouvir algumas palavras:
– Aslam! Aslam! Aslam! – suplicavam os animais. – Fale conosco!
Conforte-nos! Não fique mais zangado conosco!
De onde Tirian estava não dava para ver muito bem que bicho era
aquele; via apenas que era amarelo e peludo. Ele nunca tinha encontrado o
Grande Leão. Para dizer a verdade, nunca sequer vira um leão comum. Por
isso não tinha certeza se aquilo era mesmo Aslam. Jamais esperara que
Aslam pudesse se parecer com aquela coisa tesa que estava ali, parada, sem
dizer uma palavra. Mas como é que alguém poderia saber ao certo?
Durante alguns instantes, pensamentos horríveis passaram-lhe pela mente.
Lembrou-se então do absurdo que ouvira sobre Tash e Aslam serem um só,
e concluiu que tudo aquilo só podia ser trapaça.
O macaco chegou bem pertinho da coisa amarela, encostando sua
cabeça na dela como que tentando escutar algo que lhe fosse cochichado ao
ouvido. Então virou-se e falou para a multidão, que começou a lamentar-se
novamente. Depois a coisa amarela voltou-se desajeitadamente e saiu
andando (talvez fosse melhor dizer gingando) para o estábulo de novo, e o
macaco fechou a porta às suas costas.
Depois disso parece que alguém apagou a fogueira, pois a luz se
extinguiu subitamente. Tirian ficou mais uma vez sozinho com o frio e a
escuridão. À sua mente vieram, então, os outros reis que tinham vivido e
morrido em Nárnia nos tempos antigos. Nunca nenhum deles, pensou
Tirian, fora tão infeliz. Lembrou-se do rei Rilian, bisavô de seu bisavô, que,
ainda bem jovem, fora raptado por uma feiticeira que o conservara
escondido, durante anos e anos, nas escuras cavernas dos subterrâneos da
terra dos gigantes do norte. Mas no final tudo acabara bem, pois duas
misteriosas crianças apareceram de repente, vindas das terras de Além-
Mundo, e o libertaram; e depois que ele regressou a Nárnia teve um longo e
próspero reinado. “Comigo não acontece nada disso”, disse Tirian consigo
mesmo. Então ele foi ainda mais longe e pensou no pai de Rilian, Caspian,
o Navegador, cujo perverso tio, o rei Miraz, tentara assassiná-lo, e em
como Caspian conseguira escapar para as matas e viver entre os anões. Mas
essa história também acabara bem, pois Caspian igualmente fora ajudado
por crianças – só que dessa vez eram quatro, vindas de algum lugar para lá
do fim do mundo e que, numa grande batalha, lutaram até conseguir