Page 686 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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deixariam  pista  alguma.  O  segundo  era  encontrar  alguma  água  que
                  pudessem atravessar sem deixar rastro. Isso lhes custou cerca de uma hora,
                  escalando e vadeando. Enquanto isso, ninguém tinha fôlego para conversar.
                  Assim  mesmo,  de  vez  em  quando  Tirian  olhava  de  soslaio  para  os  seus
                  companheiros. O fato de estar andando lado a lado com criaturas de um
                  outro mundo deixava-o meio tonto; mas também fazia com  que todas as
                  antigas histórias parecessem muito mais reais do que nunca. Qualquer coisa
                  podia acontecer agora.

                         –  Estamos  livres  daqueles  vilões  por  algum  tempo,  e  podemos
                  caminhar com mais facilidade –disse Tirian quando chegaram ao topo de
                  um  pequeno  vale  que  descia  à  frente  deles,  entre  pequenas  moitas  de
                  bétulas. O sol já havia nascido e gotas de orvalho brilhavam em cada galho.
                  Os pássaros cantavam alegremente.

                         – Que tal “bater uma bóia”? Quer dizer, o senhor, pois nós dois já
                  tomamos nosso café – disse o menino.

                         Tirian ficou um tempão imaginando o que seria “bater uma bóia”.
                  Mas quando o menino abriu a bojuda mochila que trazia às costas e tirou lá
                  de dentro um pacote mole e gorduroso, então ele entendeu. Tirian estava
                  morto de fome, se bem que até aquele momento ainda não pensara nisso.
                  Havia dois sanduíches de ovos cozidos, dois sanduíches de queijo e ainda
                  dois  outros  com  uma  espécie  de  patê.  Se  não  estivesse  com  tanta  fome,
                  Tirian nem teria ligado muito para aquele patê, pois é o tipo de coisa que
                  ninguém come em Nárnia. Quando acabou de comer os seis sanduíches, já
                  estavam chegando ao fundo do vale, onde encontraram um penhasco cheio
                  de musgo de onde brotava uma pequena fonte. Os três pararam, beberam e
                  lavaram o rosto.
                         – E agora – disse a menina, ajuntando os cabelos molhados na testa e

                  atirando-os  para  trás  –,  não  vai  nos  contar  quem  é  você,  por  que  estava
                  amarrado e tudo o mais?
                         – Com todo o prazer, minha donzela – respondeu Tirian. – Mas acho
                  melhor continuarmos andando.

                         Assim, à medida que caminhavam, ele lhes contou quem era e tudo o
                  que lhe havia acontecido.

                         – E agora – disse, por fim – estamos indo para uma certa torre, uma
                  das três que foram construídas na época dos meus ancestrais para proteger
                  o Ermo do Lampião contra certos marginais perigosos que viviam por ali
                  naquele  tempo.  Por  graça  de  Aslam  não  me  roubaram  as  chaves.  Nessa
                  torre  encontraremos  suprimentos  de  armas  e  cotas  de  malha  e  também
                  mantimentos  (embora  nada  mais  que  biscoitos  secos).  Também  lá
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