Page 683 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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recolocá-lo no  trono  de  seu pai.  “Mas  isso  foi  há  muito  tempo”,  pensou
                  Tirian. “Hoje em dia essas coisas não acontecem mais.” E aí ele lembrou
                  (pois,  quando  menino,  sempre  fora  muito  bom  em  História)  que  essas
                  mesmas  crianças  que  ajudaram  Caspian  já  tinham  estado  em  Nárnia,
                  anteriormente, havia milhares e milhares de anos, e que fora naquela época
                  que tinham realizado os feitos mais notáveis. Haviam derrotado a temível
                  Feiticeira  Branca,  pondo  fim  ao  Inverno  dos  Cem  Anos.  Depois  disso
                  reinaram, os quatro de uma vez, em Cair Paravel, até que não eram mais
                  crianças  e,  sim,  poderosos  reis  e  adoráveis  rainhas;  e  seu  reinado  fora  o
                  período áureo de Nárnia. E, naquela história, Aslam aparecera uma porção
                  de  vezes.  Aliás,  nas  outras  histórias  ele  também  aparecera  muitas  vezes,
                  lembrava agora Tirian. “Aslam... e crianças de um outro mundo”, pensou.
                  “Sempre que as coisas estavam na pior, eles apareciam. Ah, se ao menos
                  pudessem vir agora!”

                         Então exclamou em voz bem alta: “Aslam! Aslam! Venha ajudar-nos
                  agora!” Mas a escuridão, o frio e a quietude continuaram do mesmo jeito.

                         – Que eu seja morto! – gritou o rei. – Nada peço para mim. Mas, por
                  favor, venha salvar Nárnia!

                         A noite e a floresta continuaram do mesmo jeito. Dentro de Tirian,
                  porém,  alguma  coisa  começou  a  mudar.  Sem  saber  por  que,  viu  nascer
                  dentro de si uma pontinha de esperança e sentiu-se um pouco mais forte.
                  “Oh,  Aslam!  Aslam!”,  suspirou.  “Se  não  vier  pessoalmente,  mande-me
                  pelo menos os ajudantes de Além-Mundo!” E então, quase sem se dar conta
                  do que estava fazendo, subitamente gritou bem alto:
                         – Crianças! Crianças! Amigos de Nárnia! Venham, rápido! Eu vos
                  chamo  através  dos  mundos!  Eu,  Tirian,  rei  de  Nárnia,  senhor  de  Cair
                  Paravel e imperador das Ilhas Solitárias!

                         E no mesmo instante mergulhou em um sonho (se é que aquilo era
                  um sonho) mais vivido do que qualquer outro que já tivera em toda a sua
                  vida.

                         Pareceu-lhe estar em pé numa sala iluminada onde havia sete pessoas
                  sentadas  em  volta  de  uma  mesa.  Pelo  jeito,  tinham  acabado  de  comer
                  naquele  instante.  Duas  delas  eram  bem  idosas  –  um  senhor  de  barbas
                  brancas e uma senhora de olhos inteligentes, brilhantes e joviais. O rapaz
                  sentado  à  direita  do  velho  mal  acabara  de  sair  da  adolescência  e  era
                  certamente ainda mais jovem que o próprio Tirian, mas já trazia no rosto a
                  expressão de um rei e guerreiro. E quase se poderia dizer o mesmo quanto
                  ao outro jovem que se sentava à direita da senhora. Bem à frente de Tirian,
                  no outro lado da mesa, sentava-se uma moça loura, ainda mais jovem que
                  os outros dois, e de cada lado dela um menino e uma menina ainda mais
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