Page 679 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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                                O QUE ACONTECEU NAQUELA NOITE






                         O rei ficou tão tonto com as pancadas que recebeu, que só percebeu
                  o  que  estava  acontecendo  quando  os  calormanos  lhe  desamarraram  os
                  pulsos e abaixaram-lhe os braços, esticando-os firmemente de cada lado do
                  corpo.  Depois  colocaram-no  de  costas  contra  o  tronco  de  uma  árvore  e
                  passaram-lhe cordas em volta dos tornozelos, dos joelhos, da cintura e do
                  peito. E foram embora.

                         O  que  mais  o  incomodava  naquele  momento  (pois  geralmente  as
                  coisinhas  pequenas  são  as  mais  difíceis  de  suportar),  era  que  seu  lábio
                  estava  sangrando  e  ele  não  conseguia  limpar  o  filete  de  sangue  que
                  escorria, fazendo-lhe cócegas.

                         De onde ele estava ainda dava para ver o macaco sentado na frente
                  do pequeno estábulo, lá no topo da colina. Podia ouvi-lo falando ainda e, de
                  vez  em  quando,  uma  ou  outra  resposta  da  multidão,  mas  não  conseguia
                  discernir o que diziam.
                         – Só queria saber o que fizeram com Precioso – pensou o rei.

                         De  repente,  a  multidão  dispersou  e  os  animais  começaram  a  se
                  mover  em  várias  direções.  Alguns  deles  passaram  pertinho  de  Tirian,
                  olhando  para  ele  como  se  estivessem  assustados  e,  ao  mesmo  tempo,
                  penalizados  por  vê-lo  amarrado,  mas  ninguém  disse  nada.  Logo  todos
                  tinham ido embora e a floresta ficou em silêncio.

                         Muitas horas se passaram, e Tirian começou a sentir sede e depois
                  fome. Quando chegou o final da tarde e a noite se aproximou, começou a
                  sentir frio também. Suas costas doíam muito. Finalmente, o Sol se pôs e o
                  crepúsculo desceu.

                         Já estava quase escuro quando Tirian ouviu um leve tamborilar de
                  pés miúdos e viu umas criaturinhas se aproximando. Os três da esquerda
                  eram ratos e no meio vinha um coelho; à direita estavam duas toupeiras.
                  Estas traziam às costas uns sacos pequenos, o que lhes dava uma aparência
                  curiosa na escuridão (tanto que, no primeiro instante, ele ficou imaginando
                  que  bichos  seriam  aqueles).  Então,  num  dado  momento,  todos  se
                  levantaram sobre as patas traseiras e, pousando as patas dianteiras nos seus
                  joelhos, começaram a dar-lhe beijinhos de animal. (Podiam alcançar-lhe os
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