Page 675 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Bem, isso não vai dar – respondeu o macaco. – Mas pode ser que
ele, num ato de muita generosidade, resolva sair um pouquinho hoje à
noite, embora isso seja muito mais do que a maioria de vocês merece. Aí
todos poderão dar uma espiadinha nele. Mas nada de aglomerações ao
redor dele ou de incomodá-lo com perguntinhas tolas. Tudo o que quiserem
dizer-lhe terá de ser por meu intermédio – isso se eu achar que é algo que
valha a pena. Enquanto isso, esquilos, é melhor vocês irem se virando para
arranjar as nozes. E dêem um jeito de trazê-las aqui até amanhã à noite,
senão vão se arrepender!
Os pobres esquilos saíram todos em disparada, como que
perseguidos por um cão de caça. Aquela nova ordem era o fim para todos
eles: as nozes que haviam armazenado cuidadosamente para o inverno já
tinham sido quase todas comidas; e do pouco que ainda lhes restava já
haviam dado ao macaco muito mais do que podiam dispensar.
Subitamente, do outro lado da multidão, ouviu-se uma voz muito
profunda. Era um grande javali peludo e de presas enormes.
– Mas por que nós não podemos ver Aslam e falar com ele? –
perguntou o javali. – Quando ele aparecia em Nárnia, antigamente,
qualquer pessoa podia vê-lo face a face e conversar com ele.
– Isso é pura conversa! – disse o macaco. – E mesmo que fosse
verdade, os tempos mudaram. Aslam disse que tem sido generoso demais
com vocês, mas que agora não vai mais ser tão mole. Desta vez vai colocá-
los todos nos eixos. Vai ensiná-los a não pensar mais que ele é um leão
domesticado e bonzinho.
Ouviu-se entre os animais um murmúrio surdo, entremeado de
suspiros, e a seguir houve um silêncio de morte, ainda mais terrível.
– E tem mais uma coisa que acho bom vocês saberem – continuou o
macaco. – Ouvi dizer que andam falando por aí que sou um macaco. Pois
bem, não sou, não. Sou um homem. Se pareço com macaco é só porque já
vivi demais: tenho centenas e centenas de anos nas costas. E justamente por
ser tão velho é que sou tão sábio. E é porque sou muito sábio que sou o
único com quem Aslam sempre vai falar. Ele não pode dar-se ao incômodo
de andar por aí falando com um monte de animais bobocas. Ele me dirá o
que vocês têm de fazer e eu o transmitirei a todos. E acho bom escutarem
meu conselho e agirem duas vezes mais rápido, pois Aslam não está para
brincadeira.
O silêncio era mortal, a não ser pelo barulho de um pequenino
texugo que chorava e da mãe tentando acalmá-lo.
– E agora tem mais uma coisa – continuou o macaco, enfiando uma
noz fresquinha na boca. – Alguns cavalos andam dizendo por aí: “Vamos