Page 674 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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respeito de tal macaco, ficaram completamente desnorteados ao verem
aquela cena.
Nem é preciso dizer que o macaco era o próprio Manhoso. Só que
agora ele parecia dez vezes mais feio do que quando vivia no Lago do
Caldeirão, pois estava trajado a rigor. Vestia uma jaqueta escarlate que não
lhe assentava muito bem, pois fora feita para um anão. Nas patas traseiras
ele enfiara umas sandálias cheias de jóias que o deixavam ainda mais
ridículo, porque, como todo mundo sabe, as patas traseiras de um macaco
mais parecem mãos. Na cabeça colocara algo parecido com uma coroa de
papel. Havia ao seu lado um montão de nozes, e ele ficava o tempo todo
quebrando-as com os dentes e cuspindo as cascas no chão. E toda hora
levantava a jaqueta escarlate para se cocar. De pé, voltados para ele, havia
uma porção de animais falantes, e praticamente cada rosto naquela
multidão trazia uma expressão aturdida e preocupada. Assim que viram
quem eram os prisioneiros, começaram a gemer e a soluçar.
– O, grande Manhoso, porta-voz de Aslam –disse o chefe calormano.
– Trazemos prisioneiros. Graças à nossa coragem e habilidade e com a
permissão do grande deus Tash, capturamos vivos estes dois perigosos
assassinos.
– Dêem-me a espada daquele homem – ordenou o macaco.
Eles pegaram a espada do rei e a entregaram, com tiracolo e tudo,
para o macaco, que a pendurou em seu próprio pescoço, o que o fez parecer
ainda mais ridículo.
– Sobre esse dois conversaremos mais tarde – resmungou o macaco,
cuspindo uma casca de noz na direção dos prisioneiros. – Tenho outros
assuntos a tratar primeiro. Esses aí podem esperar. Agora ouçam-me todos
vocês. A primeira coisa que quero dizer é sobre as nozes. Onde está o
esquilo-chefe?
– Aqui, senhor – disse um esquilo vermelho, adiantando-se
nervosamente e fazendo uma ligeira reverência.
– Ah! Aí está você. Pois bem – falou o macaco com um olhar de
desdém –, quero... isto é, Aslam deseja... mais nozes. Essas que você me
trouxe não dão nem para o cheiro. Você tem que trazer mais, ouviu bem?
Duas vezes mais! E elas têm de estar aqui amanhã, antes do pôr-do-sol. E
cuide para que não haja entre elas uma única noz pequena ou estragada.
Ouviu-se entre os esquilos um murmúrio de desânimo, e o esquilo-
chefe muniu-se de toda a coragem para dizer:
– Por favor, será que o próprio Aslam não poderia conversar conosco
sobre isso? Se ao menos nos fosse permitido vê-lo...