Page 684 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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novos. Tirian pensou consigo mesmo que nunca vira roupas mais esquisitas
do que aquelas que eles trajavam.
Mas nem teve tempo de deter-se nesses detalhes, pois de repente o
menino mais novo e as duas meninas levantaram-se de um pulo e uma
delas deu um gritinho. A senhora ergueu-se de súbito, prendendo
firmemente a respiração. O velho também deve ter feito algum movimento
brusco, pois o copo de vinho que tinha na mão direita saiu voando da mesa.
(Tirian até escutou o barulho do vidro estilhaçando no chão.)
Só então Tirian deu-se conta de que aquelas pessoas podiam vê-lo; e
o fitavam estarrecidas, como se vissem um fantasma. Notou, porém, que o
jovem com aparência de rei sentado à direita do velho não fez um único
movimento (embora tivesse empalidecido), a não ser cerrar o punho com
força. Em seguida, disse:
– Fale, se é que você não é um fantasma ou uma visão. Existe em
você algo que lembra Nárnia. E nós somos os sete amigos de Nárnia.
Tirian quis falar, e tentou gritar em alta voz que ele era Tirian de
Nárnia e que necessitava muito de ajuda. Mas descobriu (como muitas
vezes nos acontece em sonhos) que sua voz não fazia o menor ruído.
Aquele que já lhe falara uma vez ergueu-se e falou, encarando-o
firmemente:
– Espectro ou espírito ou seja lá o que for! Se você é de Nárnia,
ordeno-lhe em nome de Aslam que fale comigo. Eu sou Pedro, o Grande
Rei.
A sala começou a tremer diante dos olhos de Tirian. Ele escutava as
vozes dos sete, todas falando ao mesmo tempo e ficando cada vez mais
fracas: “Vejam! Está desaparecendo!”, “Está sumindo!”, “Está...”
No momento seguinte, achou-se completamente acordado, ainda
amarrado à árvore, mais frio e enrijecido do que nunca. A mata estava
repleta da luz pálida e monótona que antecede o nascer-do-sol, e ele estava
todo ensopado de orvalho. Já era quase manhã.
Aquele despertar foi talvez o pior momento que já tivera em toda a
sua vida.