Page 689 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 689

Tirian  olhou  cuidadosamente  para  um  lado  e  para  o  outro,
                  certificando-se de que não havia nenhum inimigo à vista. Então dirigiu-se
                  para  a  torre  e  ficou  uns  minutos  parado,  tentando  pegar  um  molho  de
                  chaves que usava por baixo do traje de caça, preso a uma correntinha de
                  prata que ele trazia ao pescoço. Era um belo molho de chaves: duas eram
                  de ouro e havia várias outras ricamente enfeitadas. Via-se logo que eram
                  chaves  feitas  para  abrir  salas  solenes  e  secretas  de  algum  palácio,  ou
                  gavetas  e  cofres  de  madeira  perfumada  contendo  tesouros  reais.  No
                  entanto,  a  chave  que  ele  meteu  na  fechadura  da  porta  era  uma  chave
                  comum, grande e rústica. A fechadura estava emperrada e por um momento
                  Tirian  chegou  a  temer  que  a  chave  não  girasse;  finalmente,  porém,
                  conseguiu movê-la, e a porta se abriu com um rangido.

                         – Bem-vindos, amigos – disse ele. – Temo que, no momento, seja
                  este  o  melhor  palácio  que  o  rei  de  Nárnia  pode  oferecer  aos  seus
                  convidados.

                         Tirian  ficou  contente  ao  notar  que  os  dois  hóspedes  eram  bem-
                  educados. Ambos disseram que não falasse assim, que tinham certeza de
                  que aquele era um ótimo lugar. Mas, para falar a verdade, não era tão bom
                  assim.  Era  muito  escuro  e  tinha  um  terrível  cheiro  de  umidade.  Havia
                  apenas  um  compartimento,  que  ia  dar  direto  no  telhado  de  pedra.  Uma
                  escadaria de madeira em um canto dava para um alçapão por onde se podia
                  chegar  às  muralhas.  Para  dormir,  havia  alguns  beliches  bem  rústicos
                  encravados na parede. Um monte de baús trancados e uma infinidade de
                  embrulhos espalhavam-se pelo chão. Havia também uma lareira que, pelo
                  jeito, não via fogo há anos e anos.

                         –  Acho  melhor  a  gente  sair  e  ajuntar  alguma  lenha  primeiro  –
                  observou Jill.

                         –  Ainda não,  minha amiga  – disse  Tirian.  Ele  não queria  correr o
                  risco de serem pegos desarmados. Por isso começou a remexer nos baús,
                  lembrando  com  gratidão  que  sempre  tivera  o  cuidado  de  mandar
                  inspecionar aquelas torres de guarnição pelo menos uma vez por ano, para
                  garantir  que  elas  se  mantivessem  devidamente  estocadas  com  todo  o
                  necessário. Ali estavam os arcos com as cordas sedosas e cuidadosamente
                  lustradas  com  óleo;  as  espadas  e  as  lanças  estavam  untadas  para  não
                  enferrujar, e as armaduras brilhavam dentro das caixas. Havia uma coisa,
                  porém, que era ainda melhor.

                         – Olhem aqui – disse Tirian, tirando uma comprida cota de malha de
                  um modelo muito curioso e fazendo-a brilhar ante os olhos das crianças.
                         – Que malha mais engraçada, senhor! – disse Eustáquio.
   684   685   686   687   688   689   690   691   692   693   694