Page 694 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Após algum tempo, iniciaram a íngreme caminhada colina acima; as
árvores cresciam cada vez mais afastadas umas das outras. Ainda que
indistintamente, Tirian já podia divisar o topo da colina e o estábulo. Jill
seguia agora com mais cautela, e o tempo todo fazia sinais com a mão para
que os outros fizessem o mesmo. Então parou, totalmente imóvel, e Tirian
viu-a afundar-se na grama e desaparecer sem o menor ruído.
Daí a alguns instantes ela estava de volta e, chegando a boca bem
pertinho do ouvido de Tirian, sussurrou o mais baixo possível: “Abaixe-se!
Dá para ver melhor!”
Tirian abaixou-se rápido, quase tão silencioso quanto Jill, mas não
tanto, pois era mais velho e mais pesado.
Daquela posição, deitado no chão, avistou dois vultos negros
recortados contra o céu coberto de estrelas: um era o estábulo e o outro,
poucos metros adiante, um sentinela calormano. O homem montava uma
péssima guarda: não estava andando, nem sequer de pé, mas sentado, com a
lança recostada ao ombro e o queixo afundado no peito. “Ótimo!”, disse
Tirian a Jill. Ela lhe mostrara exatamente o que ele precisava saber.
Então eles se levantaram e Tirian retomou a liderança. Com muito
cuidado, mal ousando respirar, encaminharam-se lentamente para um
pequeno amontoado de árvores que ficava a uns poucos metros de onde
estava o sentinela.
– Esperem aqui até eu voltar – sussurrou ele para os dois. Se eu
fracassar, fujam.
Então saiu caminhando decididamente, a plena vista do inimigo. Ao
vê-lo, o homem estremeceu e já ia dar um pulo para ficar de pé, pensando
que era um dos seus próprios oficiais e que ele estava em apuros por
encontrar-se sentado. Antes, porém, que conseguisse pôr-se de pé, Tirian já
havia se ajoelhado sobre uma perna, ao seu lado, dizendo:
– És um guerreiro do Tisroc (que ele viva para sempre)? Meu
coração alegra-se por encontrar-te aqui entre todos esses animais e
demônios de Nárnia. Dá-me tua mão, amigo.
Antes que pudesse dar-se conta do que estava acontecendo, o guarda
calormano sentiu sua mão direita dominada por um poderoso aperto de
mão. E, logo a seguir, alguém ajoelhou-se sobre as suas pernas, e ele sentiu
a pressão de uma adaga contra o pescoço:
– Um ruído e você está morto – disse-lhe Tirian ao ouvido. – Diga-
me onde está unicórnio, se quiser continuar vivo.
– A-a-trás do estábulo, gr-grande m-mestre –gaguejou o infeliz.
– Ótimo. Levante-se e leve-me até lá.