Page 697 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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escuro ali dentro e cheirava a estábulo como qualquer outro. Então acendi
                  um fósforo e... adivinhem o que vi? Nada mais, nada menos que este velho
                  jumento, com uma pele de leão amarrada às costas! Aí peguei a minha faca
                  e  disse-lhe  que  ele  tinha  de  vir  comigo.  Para  falar  a  verdade,  eu  nem
                  precisava  tê-lo  ameaçado  com  a  faca.  Ele  estava  cheio  do  estábulo  e
                  prontinho para me acompanhar – não é, Confuso?

                         –  Papagaios!  –  exclamou  Eustáquio.  –  Devo  estar  biruta.  Ainda
                  agorinha estava louco da vida com você, e ainda acho que foi sujeira sua
                  sumir daqui sem a gente. Mas devo admitir... quer dizer... bem, o que você
                  fez  foi  realmente  incrível.  Se  ela  fosse  um  menino  merecia  ser  armada
                  cavaleiro, não acha, senhor?

                         –  Se  ela  fosse  um  menino  –  respondeu  Tirian  –,  ia  é  levar  uma
                  bronca por ter desobedecido às minhas ordens. – Naquela escuridão, não
                  dava para ver se ele dissera aquilo com uma carranca ou um sorriso. Logo a
                  seguir ouviu-se um ruído de metal sendo amolado.

                         – O que está fazendo, senhor? – perguntou Precioso, desconfiado.
                         –  Amolando  a  minha  espada  para  decepar  a  cabeça  desse  asno
                  maldito – respondeu Tirian, com uma voz terrível. – Saia daí, garota!

                         – Oh, não! Por favor, não! – exclamou Jill. – Não pode fazer isso.
                  Não foi culpa dele. Foi tudo invenção daquele macaco. Ele não sabia de
                  nada e sente muito pelo que aconteceu. Ele é um jumento muito bom. O
                  nome dele é Confuso. E eu já estou abraçada ao pescoço dele. E...

                         – Jill – disse Tirian –, você é a mais corajosa e a mais entendida em
                  florestas  dentre  todos  os  meus  súditos. Mas  é também  a  mais  atrevida e
                  desobediente. Pois bem: que o asno fique vivo. O que tem a dizer em seu
                  favor, asno?

                         – Eu, senhor? – ouviu-se a voz do jumento. – Só sei que sinto muito
                  mesmo se fiz alguma coisa errada. O macaco me disse que Aslam queria
                  que eu me vestisse daquele jeito. E eu achava que ele é que devia saber.
                  Não sou inteligente como ele. Fiz apenas o que me mandaram. Não teve
                  graça  nenhuma  para  mim  ficar  o  tempo  todo  dentro  daquele  estábulo.  E
                  nem  mesmo  sei o  que  anda  acontecendo  aqui  fora.  Ele  nem  me  deixava
                  sair,  a  não  ser  por  um  ou  dois  minutos,  à  noite.  Tinha  dias  que  até  se
                  esqueciam de me dar água...

                         – Senhor – disse Precioso –, aqueles anões estão chegando cada vez
                  mais perto. Vamos deixar que nos alcancem?
                         Tirian pensou um pouco e de repente soltou uma enorme gargalhada.
                  Então falou, agora sem cochichar, mas em voz bem alta.
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