Page 701 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 701
Após um breve silêncio, ouviu-se a voz não muito agradável de um
anão de barba e cabelos pretos cheios de fuligem:
– Posso saber quem é a senhorita?
– Sou Jill – respondeu ela. – A mesma Jill que libertou o rei Rilian
do encantamento. E este aqui é Eustáquio, que estava comigo também.
Estamos voltando do nosso mundo após centenas de anos, e viemos a
mando de Aslam.
Todos os anões se entreolharam com um sorriso – não um sorriso de
alegria, mas de malícia e zombaria.
– Escutem aqui, meus chapas – disse o anão negro, cujo nome era
Grifo –, não sei quanto a vocês, mas já estou cheio dessa história de Aslam.
Já escutei sobre ele mais do que gostaria de ouvir para o resto da vida.
– Isso mesmo, isso mesmo! – rosnaram os outros anões. – Tudo não
passa de trapaça, uma maldita trapaça!
– O que querem dizer com isso? – exclamou Tirian. Durante toda a
luta ele não empalidecera uma única vez; agora, porém, seu rosto estava
lívido. Imaginara que aquele seria um momento lindo. Em vez disso,
começava a parecer um pesadelo.
– Vocês devem estar pensando que somos fracos da bola, isso, sim –
disse Grifo. –Já fomos enrolados uma vez e agora querem nos enganar de
novo. Não queremos mais saber de conversa sobre Aslam. Vejam só!
Olhem para ele! Um burro velho de orelhas compridas!
– Pela madrugada! Vocês estão me deixando maluco! – disse Tirian.
– Quem foi que disse que isto é Aslam? Isto é apenas a imitação que o
macaco fez de Aslam. Será que não compreendem?
– E, pelo jeito, você conseguiu uma imitação ainda melhor! –
retrucou Grifo. – Não, muito obrigado. Já nos fizeram de bobos uma vez e
ninguém vai nos enganar de novo.
– Não enganei ninguém! – explodiu Tirian, com raiva. – Eu sirvo ao
verdadeiro Aslam!
– E onde está ele? Quem é ele? Queremos vê-lo! – gritaram vários
anões.
– Vocês acham que eu o tenho guardado no bolso, seus idiotas? ! –
disse Tirian. – Quem sou eu para fazer Aslam aparecer assim, com uma
simples ordem minha? Ele não é um leão domesticado!
Ao dizer isso, Tirian percebeu que cometera um erro. No mesmo
instante, os anões começaram a repetir em coro, em tom de chacota:
– Não é domesticado! Não é domesticado!