Page 705 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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ainda existem amigos leais que podem ajudá-los; ao contrário, deixou-os
                  muito mais apavorados e obedientes ao macaco.

                         – Que astúcia infernal! – disse Tirian. – E esse Ruivo, então, ajustou-
                  se direitinho às idéias do macaco. Os dois são a tampa e a panela.

                         – Do jeito que vão as coisas, senhor, a questão agora é saber se o
                  macaco se ajusta às idéias dele – replicou o anão.

                         – O macaco deu para beber, sabe? Creio que a trama, agora, é muito
                  mais coisa do ruivo e de Rishda, o capitão calormano. E tenho a impressão
                  de que algumas coisas que o gato andou espalhando por aí entre os anões
                  são a principal causa do troco que lhe deram hoje. E já lhe digo por quê.
                  Anteontem, logo depois de acabar uma daquelas odiosas reuniões da meia-
                  noite, eu já ia a meio caminho de volta para casa quando percebi que havia
                  esquecido  meu  cachimbo.  Como  era  um  cachimbo  realmente  bom  e  um
                  velho  preferido  meu,  decidi  voltar  para  procurá-lo.  Antes,  porém,  que
                  chegasse ao lugar onde estivera sentado (estava escuro como breu), ouvi
                  uma  voz  de  gato  dizer:  “Miau!”,  e  uma  voz  de  calormano  responder:
                  “Estou  aqui...  Fale  baixo!”  No  mesmo  instante  fiquei  parado  como  uma
                  estátua e vi que os dois eram Ruivo e Rishda Tarcaã, como o chamam por
                  aí.  “Nobre  tarcaã,”  disse  o  gato  naquela  sua  vozinha  macia,  “só  queria
                  saber  exatamente  o  que  ambos  quisemos  dizer  hoje  quanto  a  ser  Aslam
                  nada mais do que Tash.” “Sem dúvida alguma, ó mais sagaz de todos os
                  gatos!”, respondeu o outro. “Tu entendeste muito bem o que eu quis dizer
                  com isso.” “Você quis dizer que não existe nenhum dos dois”, disse o gato.
                  “Qualquer ser inteligente sabe disso”, observou o tarcaã. “Então nós dois
                  podemos nos entender”, ronronou o gato. “Por acaso você não está cheio
                  desse macaco?” “Ele não passa de um bobalhão ganancioso”, respondeu o
                  outro, “mas no momento precisamos dele. Tu e eu podemos arranjar tudo
                  às escondidas e manejar o macaco para fazer o que quisermos.” E Ruivo
                  disse:  “Você  não  acha  que  seria  melhor  pôr  alguns  dos  narnianos  mais
                  espertos  a  par  dos  nossos  planos?  Um  por  um,  à  medida  que  os
                  considerarmos  aptos.  Porque  os  animais  que  realmente  acreditam  em
                  Aslam  podem  mudar  de  idéia  a  qualquer  momento;  e  o  farão  se,  por
                  insensatez, o macaco trair seu segredo. Aqueles, porém, para quem tanto
                  faz Tash ou Aslam, desde que as coisas revertam em seu próprio benefício,
                  e que visam também à recompensa que lhes dará o Tisroc quando Nárnia se
                  tornar uma província calormana, estes ficarão firmes.” “Excelente, gato!”,
                  disse o capitão. “Mas tenha muito cuidado ao fazer a escolha.”

                         Enquanto  o  anão  falava,  o  dia  parecia  mudar.  Quando  eles  se
                  sentaram, o sol estava brilhando. Agora, porém, Confuso sentia calafrios.
                  Precioso virava a cabeça de um lado para outro, inquieto. Jill olhou para
                  cima.
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