Page 707 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 707

8


                                       AS NOVAS QUE A ÁGUIA TROUXE




                         À  sombra  das  árvores,  no  lado  mais  distante  da  clareira,  alguma
                  coisa  se  movia.  Vinha  vindo  vagarosamente  rumo  ao  Norte.  À  primeira
                  vista, quem a visse a confundiria com fumaça, pois era acinzentada e meio
                  transparente. Mas o cheiro era de morte e não de fumaça... Além disso, a
                  coisa tinha uma forma constante, em vez de se revolver e espalhar como
                  fumaça. Lembrava ligeiramente a forma de um homem, mas a cabeça era
                  de pássaro – parecia uma ave de rapina, com um bico curvo e cruel. Tinha
                  quatro braços, que trazia erguidos acima da cabeça, esticados em direção ao
                  Norte, como se quisesse abarcar Nárnia inteira com suas garras. E os dedos,
                  todos os vinte, eram curvos como o bico, e no lugar de unhas havia umas
                  garras compridas e pontudas como as de uma águia. Em vez de caminhar, a
                  coisa  flutuava  sobre  a  grama,  que  parecia  murchar  à  medida  que  ela
                  passava.

                         Ao  ver  aquilo,  Confuso  deu  um  zurro  estridente  e  disparou  para
                  dentro  da  torre.  Jill  (que  não  era  nada  covarde,  como  vocês  sabem)
                  escondeu o rosto entre as mãos, tentando apagar aquela visão horrível. Os
                  outros, estarrecidos, fitaram a coisa durante cerca de um minuto, até que ela
                  desapareceu  entre  as  árvores  mais  espessas,  do  lado  direito  da  floresta.
                  Então o sol voltou a brilhar e ouviu-se novamente o canto dos pássaros.

                         Um a um, eles começaram a respirar e a se mexer de novo. Todos
                  haviam ficado imóveis como defuntos enquanto aquela coisa se movia.

                         – O que era aquilo? – perguntou Eustáquio, num sussurro.
                         – Eu já vi isso uma vez, antes – disse Tirian. – Mas estava gravado
                  numa pedra e revestido de ouro, e tinha olhos de diamante. Naquela época
                  eu era da idade de vocês e tinha ido a Tashbaan a convite do Tisroc. Ele me
                  levou ao grande templo de Tash, e foi lá que eu o vi, esculpido acima do
                  altar.

                         –  Quer  dizer  que  aquilo...  aquela  coisa...  era  Tash?  –  ofegou
                  Eustáquio.

                         Mas em vez de responder-lhe, Tirian passou o braço pelos ombros de
                  Jill, perguntando-lhe:

                         – Como se sente, senhorita?
   702   703   704   705   706   707   708   709   710   711   712