Page 710 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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riacho.  A  mistura  nojenta  fazia  espuma  como  um  sabonete:  era  até
                  divertido  ver  Tirian  e  as  duas  crianças  ajoelhados  à  beira  da  água,
                  esfregando a nuca, ofegando e bufando, no esforço de enxaguar o pescoço.
                  Quando voltaram para a torre, tinham o rosto vermelho e brilhante, como
                  quem acaba de tomar um bom banho antes de ir a uma festa. Equiparam-se,
                  novamente, desta vez  ao verdadeiro estilo narniano,  com  espadas  retas e
                  triangulares.

                         –  Agora,  sim  –  disse  Tirian.  –  Assim  é  bem  melhor.  Sinto-me  de
                  novo um homem de verdade.

                         Confuso implorou que lhe tirassem a pele de leão, dizendo que esta
                  era  quente  demais  e,  embolada  como  estava  em  suas  costas,  muito
                  desconfortável; além disso, ele se sentia um bobalhão com aquilo. Mas os
                  outros disseram que ele teria de agüentar um pouquinho mais, pois queriam
                  mostrá-lo  naqueles  trajes  para  os  outros  bichos,  embora  tivessem  de  ir
                  primeiro ao encontro de Passofirme.

                         O que restara da carne de pato e de coelho não valia a pena levar,
                  mas eles pegaram alguns biscoitos. Tirian trancou a porta da torre e assim
                  acabou-se a estada deles naquele lugar.
                         Passava um pouco das duas horas da tarde quando saíram. Aquele
                  era  o  primeiro  dia  realmente  quente  da  primavera.  As  folhinhas  verdes
                  pareciam  muito  mais  vistosas  do  que  no  dia  anterior:  já  não  havia  mais
                  qualquer sinal de neve e viam-se, aqui e acolá, quantidades de margaridas
                  silvestres.  Os  raios  de  sol  filtravam-se  através  das  árvores,  os  pássaros
                  cantavam e ouvia-se sempre (embora geralmente fora de vista) o barulho de
                  água corrente. Era difícil pensar em coisas ruins, como Tash, por exemplo.
                  As  crianças  suspiravam:  “Finalmente!  Isto,  sim,  é  a  verdadeira  Nárnia!”
                  Também Tirian tinha o coração um pouco mais leve e caminhava à frente

                  deles, cantarolando uma velha marchinha narniana, cujo refrão era assim:
                         Bate o tambor: Pã-rã-rã! Pram! Pram!
                         Bate e rebate: Pã-rã! Pram! Prrram!
                         Atrás do rei seguiam Eustáquio e o anão Poggin, que ia dizendo para
                  o companheiro os nomes de todos os pássaros, árvores e plantas narnianas
                  que ele ainda não conhecia. Às vezes, era Eustáquio quem lhe falava sobre
                  as coisas da Inglaterra.

                         Mais  atrás  vinha  Confuso,  seguido  de  Jill  e  Precioso,  que
                  caminhavam  bem  pertinho  um  do  outro.  Jill  estava,  por  assim  dizer,
                  completamente  apaixonada  pelo  unicórnio.  Ela  achava  (e  não  estava
                  totalmente enganada) que ele era o animal mais brilhante, gentil e elegante
                  que já havia conhecido. E seu jeito de falar era tão suave e agradável, que
                  mal  dava  para  acreditar  que  pudesse  ser  tão  terrível  e  violento  numa
                  batalha.
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