Page 711 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 711
– Ah, que maravilha! – disse Jill. – Ficar andando por aí, à toa... Bem
que eu gostaria de viver mais aventuras deste tipo. Pena que esteja sempre
acontecendo tanta coisa em Nárnia!
Mas o unicórnio explicou-lhe que ela estava enganada. Disse-lhe que
os Filhos e Filhas de Adão e Eva só eram trazidos de seu estranho mundo
para Nárnia quando havia agitação e problemas, mas que Nárnia não era
sempre daquele jeito. Entre uma e outra de suas visitas, transcorriam-se
centenas e milhares de anos em que reis pacíficos sucediam uns aos outros
– eram tantos que mal dava para recordar o nome de todos eles ou contar
quantos eram, sendo até muito difícil citá-los todos nos livros de História.
E falou-lhe de velhas rainhas e heróis de quem ela nunca ouvira falar antes.
Contou-lhe da rainha Cisne Branco, que vivera muito antes de aparecer a
Feiticeira Branca e o Grande Inverno. Era tão linda, disse ele, que, quando
se mirava em qualquer lago da floresta, o reflexo de seu rosto passava um
ano e um dia resplandecendo nas águas como uma estrela à noite. Contou-
lhe de Bosque de Luar, uma lebre de ouvidos tão aguçados que, se estivesse
lá no Lago do Caldeirão, era capaz de escutar, mesmo sob o estrondoso
barulho da grande queda-d’água, qualquer homem que estivesse
cochichando em Cair Paravel. Depois contou-lhe como o rei Furacão, o
nono na descendência do rei Franco (o primeiro de todos os reis de Nárnia),
saíra velejando pelos mares do Oriente, onde libertara as Ilhas Solitárias de
um dragão, recebendo como recompensa as próprias ilhas, que se tornaram
parte das terras leais a Nárnia para sempre. Falou-lhe de séculos inteiros em
que Nárnia fora tão feliz, que sensacionais festas e danças, no máximo
torneios, eram a única coisa de que podiam lembrar-se, e cada dia e cada
semana era sempre melhor que o anterior. À medida que ia falando, a
imagem de todos aqueles anos felizes, milhares e milhares deles, ia-se
acumulando na mente de Jill, como se ela estivesse olhando do alto de uma
montanha e enxergasse lá embaixo uma agradável planície cheia de
florestas, campos e rios, que se estendiam cada vez mais para longe até
perder-se de vista. Então ela disse:
– Oh! Tomara que a gente consiga logo dar um jeito naquele macaco
e voltar à calma daqueles bons tempos! E, aí, espero que estes durem para
sempre, eternamente. O nosso mundo eu sei que vai acabar um dia. Mas
quem sabe este aqui não tenha o mesmo destino. Oh, Precioso! Não seria
maravilhoso se Nárnia nunca acabasse e fosse para sempre como a Nárnia
que você acaba de descrever?
– Não, irmãzinha – respondeu Precioso. – Todos os mundos
caminham para um fim, exceto a própria terra de Aslam.
– Bem, pelo menos – disse Jill –, espero que o fim deste mundo
ainda esteja a milhões de milhões de milhões de anos... Opa! Por que é que
estamos parando?